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domingo, 28 de janeiro de 2018

Era o dia vinte e oito de Janeiro de mil novecentos e quarenta e nove:

Eram vinte e duas horas. Noite escura como breu. Para mim mais porque ainda estava no além. Mas quando fui posto cá fora – neste mundo era o que comentavam uns com os outros. Até de ironia diziam uns para os outros: noite de andar o mafarrico. Mas não.
Quem ali chegou naquele momento e hora vinha na paz do Senhor. Naquele tempo Freamunde, principalmente, o lugar da Gandarela era como os demais lugares de escuridão. Aqui não me refiro à escuridão política. Não! Refiro-me à ambiental. A grande parte das casas não possuía luz eléctrica. E os lugares, hoje ruas, a mesma coisa. Era a dos candeeiros e outros afins. Estou a falar de coisas para mim, impensáveis para aquele dia de vida. Aliás! Minutos de vida. Muito pouca coisa para só com minutos de vida e já me aventurar em comentador. O certo, certo, é que era motivo de falatório. 

Era gordinho! Moreno! Até seria por isso que em pequeno era tratado por Vicente. Para quem não sabe Vicente era um jogador do Belenenses e de raça preta. Por isso o nome com que me “crismaram” e a partir daí o meu afecto pelo clube de Belém. Coisas que nos afeiçoam.
Até o meu pai que depois de ir chamar a “parteira” senhora Alzira “Farrapeira” – pôs muitos Freamundenses neste mundo – fumava cigarro atrás de cigarro, Definitivos evidentemente, entrou no quarto se àquilo se podia chamar um quarto e votou logo faladura. É igualzinho a mim. Numa coisa tinha razão. No meio das pernas. Mas só no aspecto. No volume era disforme. Também senão fosse então é que diziam que era mesmo o mafarrico.
O certo é que com noite ou sem noite, com dia vinte e oito ou não e no mês de Janeiro lá vim a este mundo. Depois de estar cá fora não tive outro remédio senão me fazer à vida. Se me fosse possível fazia o regresso ao passado. Mas talvez esteja a ser injusto. Com todas as condicionantes o fazer feliz – os meus pais – já devia bastar para não pensar no regresso ao passado.
O que faz lembrar o vinte e oito de Janeiro de mil novecentos e quarenta e nove. Faz-me delirar e pensar em coisas absurdas. Mas esta vida também não será absurda?
Claro que é. E temos a prova disso.

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