Eram vinte e duas horas. Noite escura como breu. Para mim mais porque ainda estava no além. Mas quando fui posto cá fora – neste mundo era o que comentavam uns com os outros. Até de ironia diziam uns para os outros: noite de andar o mafarrico. Mas não.
Quem ali chegou naquele momento e hora vinha na paz do Senhor. Naquele tempo Freamunde, principalmente, o lugar da Gandarela era como os demais lugares de escuridão. Aqui não me refiro à escuridão política. Não! Refiro-me à ambiental. A grande parte das casas não possuía luz eléctrica. E os lugares, hoje ruas, a mesma coisa. Era a dos candeeiros e outros afins. Estou a falar de coisas para mim, impensáveis para aquele dia de vida. Aliás! Minutos de vida. Muito pouca coisa para só com minutos de vida e já me aventurar em comentador. O certo, certo, é que era motivo de falatório.
Era gordinho! Moreno! Até seria por isso que em pequeno era tratado por Vicente. Para quem não sabe Vicente era um jogador do Belenenses e de raça preta. Por isso o nome com que me “crismaram” e a partir daí o meu afecto pelo clube de Belém. Coisas que nos afeiçoam.
Era gordinho! Moreno! Até seria por isso que em pequeno era tratado por Vicente. Para quem não sabe Vicente era um jogador do Belenenses e de raça preta. Por isso o nome com que me “crismaram” e a partir daí o meu afecto pelo clube de Belém. Coisas que nos afeiçoam.
Até o meu pai que depois de ir chamar a “parteira” senhora Alzira “Farrapeira” – pôs muitos Freamundenses neste mundo – fumava cigarro atrás de cigarro, Definitivos evidentemente, entrou no quarto se àquilo se podia chamar um quarto e votou logo faladura. É igualzinho a mim. Numa coisa tinha razão. No meio das pernas. Mas só no aspecto. No volume era disforme. Também senão fosse então é que diziam que era mesmo o mafarrico.
O certo é que com noite ou sem noite, com dia vinte e oito ou não e no mês de Janeiro lá vim a este mundo. Depois de estar cá fora não tive outro remédio senão me fazer à vida. Se me fosse possível fazia o regresso ao passado. Mas talvez esteja a ser injusto. Com todas as condicionantes o fazer feliz – os meus pais – já devia bastar para não pensar no regresso ao passado.
O que faz lembrar o vinte e oito de Janeiro de mil novecentos e quarenta e nove. Faz-me delirar e pensar em coisas absurdas. Mas esta vida também não será absurda?
Claro que é. E temos a prova disso.
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