Rádio Freamunde

https://radiofreamunde.pt/

quarta-feira, 12 de abril de 2017

A nova crise de Cuba… na Síria ou na Coreia do Norte?

ricardocabral
Afigura-se-me, ao concluir este texto, na terça-feira ao fim do dia, que estamos a viver, sem nos apercebermos, dias tão perigosos como os dias da crise de Cuba.
A reviravolta de Trump, ao ordenar um ataque com mísseis cruzeiros à Síria na passada quinta-feira, no dia em que jantava com o presidente chinês, surpreendeu todos os observadores. Trump que tinha prometido uma aproximação à Rússia, reagiu (ou parece ter reagido) a quente a um ataque com armas químicas, cuja autoria atribui ao presidente sírio, Bashar al-Assad, com base em análise dos seus serviços de informação.
A reacção dos EUA foi muito rápida, sem esperar a confirmação “independente” da autoria do ataque com armas químicas. Trump está sob enorme pressão em Washington desde que foi eleito. Com o ataque à Síria recebeu, pela primeira vez, apoio daqueles que o criticavam, uma ala importante do partido republicano liderada por John McCain e Lindsey Grahame uma parte do partido democrata, próxima de Hillary Clinton. A imprensa mainstream dos EUA pela primeira vez apoiou o presidente, com alguns comentadores, como Fareed Zakaria da CNN, a considerar que agiu  como (um verdadeiro) presidente. O ataque parece ter beneficiado Trump nas sondagens.
Muitos acreditam, por isso, que o ataque de Trump foi sobretudo determinado por questões de política interna, i.e., para apaziguar os seus opositores em Washington DC. No entanto, com esta decisão, Trump quebra mais uma promessa eleitoral, a de acabar com o papel dos EUA como polícia do mundo e com os numerosos conflitos militares em que os EUA está envolvido, promessa essa que levou um segmento dos conservadores, mas também da ala esquerda do partido democrata, a votar em Trump, em detrimento de Hillary Clinton que consideravam como “neo-con”.
O ataque sinaliza uma maior intervenção militar dos EUA na Síria, onde a Rússia está fortemente comprometida com a defesa do governo de Bashar al-Assad.
No “jogo da galinha” de quem cede primeiro, Rússia e países  aliados (Irão e Síria), traçaram uma linha na areia, encurralando-se deliberadamente a um canto, com o objectivo de forçar os EUA a ceder. A resposta da Rússia, indicando que responderá a toda e qualquer agressão ao governo sírio, é perigosa. A Rússia poderá sentir que não pode recuar e os EUA poderão ser tentados a não se deixar intimidar, como dão a entender as mais recentes declarações do Secretário da Defesa dos EUA.
Putin já avisou que os rebeldes estarão a preparar “falsos” ataques com armas químicas. Espera que Trump responda de novo do mesmo modo?
O presidente da Rússia terá muitos defeitos mas é inteligente e possui grande experiência política. Putin estará consciente do desastre que é um conflito armado com os EUA, mas será capaz de recuar? Enquanto que os EUA se confrontam com a liderança de um dos presidentes mais instáveis e menos previsíveis de tempos recentes, recém-eleito, sem qualquer experiência governativa.
No extremo oriente, a situação na Coreia do Norte também é muito delicada, embora aparentemente aí a China ameace intervir “ao lado” dos EUA, i.e., contra a Coreia do Norte.
Todos sabem que este é um jogo que não pode ser ganho por nenhuma parte e, por isso, o melhor mesmo é não jogá-lo. EUA, Rússia e China fariam bem em procurar reduzir a tensão em relação nestes dois focos de potencial conflito entre as grandes potências, que, como se sabe, são bem mais fáceis de começar do que de concluir.
E o Mundo agradeceria…
(Ricardo Cabral, in Público, 12/04/2017)


Do blogue ( Estátua de Sal ) 

Sem comentários:

Enviar um comentário