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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Há 55 anos:

Freamunde acordou com a morte do Nuno. Era um Domingo e de Sábado para Domingo rebentou em Luanda uma revolta que veio dar início à luta armada que durante treze anos levou a maioria dos jovens portugueses até àquela província ultramarina, como era chamada na altura. O Nuno era filho desta terra. Antes tinha servido o exército português numa outra província que se situava na Índia e que dávamos o nome de Goa, Damão e Diu.
Depois de regressar da Índia foi trabalhar para a Fábrica de Móveis de Albino de Matos Pereira & Barros onde antes de ir para a tropa já ali trabalhava como serralheiro mecânico. Como naquela altura os ordenados eram baixos resolveu concorrer a um concurso da Polícia de Segurança Pública. Frequentou um curso de formação profissional. Ficou aprovado.
Como se sabe quando há entrada de novos recrutas, regra geral, vão para os lugares mais longínquos para os seus colegas mais velhos virem para mais perto das suas terras.
Foi o que aconteceu ao Nuno. Foi para Angola. Ainda não estava lá há muito tempo quando se dá a revolta à Cadeia de S. Paulo e algumas Esquadras da P. S. P. na cidade de Luanda. O Nuno teve o azar de nessa noite, quatro para cinco de Fevereiro, estar de serviço.
Naquele tempo os meios quer humanos quer materiais eram poucos e rudimentares. Havia rumores conspirativos mas Salazar não lhe dava grande valor. E, assim o que era conspirativo tornou-se realidade.
Os trabalhadores revoltaram-se. Exigiam a abolição do trabalho forçado e o fim do pagamento de impostos, fazendo greve nas plantações algodoeiras, num movimento liderado por António Mariano. Os protestos não se limitavam à greve. Durante dois dias, foram queimadas sementes, algumas pontes sobre os rios apareceram destruídas e as missões católicas, as lojas e casas de colonos sofreram ataques. As tropas portuguesas reagiram, colocando em acção as companhias de caçadores especiais e aviões que lançaram bombas incendiárias.O massacre ficou conhecido como o massacre de Cassanje.
Houve um banho de sangue e a morte de oito mil agricultores que trabalhavam para a Companhia de Algodão de Angola e para a Cotonang, uma fazenda algodoeira de capitais mistos de portugueses e belgas. Estes acontecimentos deram-se em Janeiro. E, foi por isso e pela sua independência que se deu o ataque à Cadeia de S. Paulo em Luanda.
O Nuno, segundo soube mais tarde, estava de serviço na Sétima Esquadra. Tomei conhecimento porque na Companhia que incorporei em Angola fazia parte um Sargento que foi colega do Nuno na P. S. P. e na dita Sétima Esquadra.
Assim o dia cinco de Fevereiro, dia de S. Águeda na Freguesia de Sousela no concelho de Lousada, foi um dia trágico em Freamunde. 
O Nuno era boa pessoa, bastante estimado aqui em Freamunde, assim como a sua família. 
Mais tarde em Agosto desse ano deu-se o funeral. Até àquele dia nunca tinha visto tanta gente num funeral. Era o exército, a Polícia de Segurança pública e os milhares de civis que incorporaram o funeral.
Era novato, tinha doze anos, mas nunca estes dias, o da morte assim como o do funeral, me saíram da lembrança. 
É por esse motivo que o trago à lembrança dos Freamundenses.

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