Os meus sinceros parabéns ao senhor Alfredo Matos, vulgo (Cherina),
pelos seus cem anos de vida. Faço-o com intenso carinho. Há os que apelidam, os
idosos, de peste grisalha. Que sobrevivem e essa sobrevivência dá cabo da
economia e da Segurança Social. Eu acho que não. E dá-me um prazer enorme
quando me encontro com gente assim. Vou beber à sua fonte – idade –
ensinamentos que conservo e transmito aos mais jovens. Por isso o meu repúdio
quando alguém os trata como “peste grisalha”. Até porque já faço parte dessa
classe.
É por isso que estou a par de parte da vida vivida de Alfredo Matos.
Em miúdo já convivia com ele. Quer na laboração de tamancos na Tamancaria
Costa, no lugar da Boavista, Freamunde. Ali depois do horário laboral, Alfredo
Matos trabalhava na fábrica Albino de Matos Pereira & Barros, na secção de
pintura, ia para a tamancaria Costa confeccionar tamancos de círculo e meio
círculo, até à meia-noite para auferir mais uns patacos. A vida era difícil e
para colmatar essa dificuldade era preciso ter esse parte-time.
Tinha outro. E a este dedicou seis dezenas de anos. Foram muitos anos.
É difícil encontrar quem tenha estado ligado assim tantos anos a uma
colectividade. E, essa colectividade não era fácil. Exigia ensaios semanais e
parte dos domingos de Verão fora da família. Tocou quase de tudo. Digo tocou
por que era na Banda Marcial de Freamunde, não sei se quando deixou a
actividade já a Banda era chamada de Banda Musical de Freamunde.
Quando a Banda não tinha festas aos domingos e, nos domingos de inverno
que é o período que as bandas não são solicitadas porque não as há, Alfredo
Matos ia com um saco de serapilheira mais o seu filho José Maria (Paralelo),
então já espigadote, às landres, para alimentar os porcos que Alfredo Matos
criava para vender e não para matar para consumo próprio. É como disse: tempos
difíceis. Esses extras serviam para fazer face à vida.
Quando ficou viúvo continuou a viver na mesma casa no lugar da
Boavista. Como a idade avançava a sua família não via com bons olhos esta
vivência. Custou-lhe sair dali. Foram muitos os anos ali vividos. Mas teve de
ser. Assim passou a viver na casa do seu filho José Maria (Paralelo). E,
deve-se também a este facto a sua longevidade. É que quando os idosos vivem
sozinhos o desleixo da vida é um facto o que leva a que a morte apareça mais
cedo.
Por tudo o que exponho aqui neste texto é minha vontade que para o ano
neste dia venha desejar mais um feliz aniversário a Alfredo Matos. Oxalá que
sim. Que é o mesmo que dizer que ambos fazemos parte desta peste grisalha. Até
ao ano.
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