Rádio Freamunde

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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Emídio Rangel:

Era um criador raro: dedicava-se a arranjar maneiras de pôr outros criadores a criar. Não era só um excelente director: era um instigador, uma faísca, um capanga. Não era só um entusiasta que entusiasmava os outros e se deixava entusiasmar por eles. "Só" nunca foi tão mal empregado: se tivesse sido essa pessoa e mais nada já haveria todas as razões para elogiar a vida, o trabalho e o carácter dele.
Mas o Emídio era mais ainda: era um entusiasta que entusiasmava entusiastas. Descobria até os entusiasmos que os próprios não sabiam que tinham. Era tudo menos totalitário: era como um óptimo obstetra que era, ao mesmo tempo, um óptimo pai.
Dizem que tinha um feitio difícil. Ainda bem. Aposto que tinha razão quando o mostrava. Eu conheci-o sempre com bom feitio: aberto, curioso, cúmplice, rebelde, divertido.
Não é pouca coisa dever-lhe a TSF e a SIC: há mais alguém que tenha sido pioneiro da rádio jornalística e informativa (a imprescindível TSF) e, logo a seguir, da mais fulgurante televisão comercial que alguma vez houve em Portugal (a SIC enquanto ele lá esteve)?
Acho que não, a não ser o igualmente grande Francisco Pinto Balsemão. Foi uma tragédia quando se desentenderam. Não sei como nem porque é que foi. Mas aposto que, se essas coisas pudessem ser medidas, era o Emídio que tinha mais razão.
Não foi só o Emídio Rangel que morreu: foi uma maneira de viver e trabalhar em liberdade, que ele deu, personificou e exigiu.

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