Era um criador raro: dedicava-se a arranjar maneiras de pôr outros
criadores a criar. Não era só um excelente director: era um instigador, uma
faísca, um capanga. Não era só um entusiasta que entusiasmava os outros e se
deixava entusiasmar por eles. "Só" nunca foi tão mal empregado: se
tivesse sido essa pessoa e mais nada já haveria todas as razões para elogiar a
vida, o trabalho e o carácter dele.
Mas o Emídio era mais ainda: era um entusiasta que entusiasmava
entusiastas. Descobria até os entusiasmos que os próprios não sabiam que
tinham. Era tudo menos totalitário: era como um óptimo obstetra que era, ao
mesmo tempo, um óptimo pai.
Dizem que tinha um feitio difícil. Ainda bem. Aposto que tinha razão
quando o mostrava. Eu conheci-o sempre com bom feitio: aberto, curioso,
cúmplice, rebelde, divertido.
Não é pouca coisa dever-lhe a TSF e a SIC: há mais alguém que tenha
sido pioneiro da rádio jornalística e informativa (a imprescindível TSF) e,
logo a seguir, da mais fulgurante televisão comercial que alguma vez houve em
Portugal (a SIC enquanto ele lá esteve)?
Acho que não, a não ser o igualmente grande Francisco Pinto Balsemão.
Foi uma tragédia quando se desentenderam. Não sei como nem porque é que foi.
Mas aposto que, se essas coisas pudessem ser medidas, era o Emídio que tinha
mais razão.
Não foi só o Emídio Rangel que morreu: foi uma maneira de viver e trabalhar em liberdade, que ele deu, personificou e exigiu.
Não foi só o Emídio Rangel que morreu: foi uma maneira de viver e trabalhar em liberdade, que ele deu, personificou e exigiu.
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