O manifesto propondo a reestruturação da dívida foi conhecido no mesmo
dia em que o INE revelava os resultados da política levada a cabo pela troika
com a cumplicidade entusiástica deste governo. Como se fosse uma lista de
baixas numa guerra, ficámos a saber que o PIB do país recuou ao nível do ano
2000 e o emprego tombou até ao ano de 1996. Em dois anos e meio foram
destruídos 328 mil empregos. Tudo isto para combater uma dívida pública bruta
excessiva, que, no mesmo período, subiu de 94% para quase 130% (ultrapassando
em 15% as precisões da troika)! Este manifesto limita-se a olhar a realidade de
frente: o País caminha para o suicídio, e é preciso mudar o rumo. No quadro
europeu. Pesando o interesse de Portugal, mas também o interesse comum do
projecto europeu, de que muita gente, em Bruxelas e Berlim, parece ter-se
esquecido. Perante isso, o primeiro-ministro, e uma escassa legião de escribas
auxiliares, acusam os subscritores do manifesto de "pôr em causa o
financiamento do país", de "inoportunidade", e, até, de falta de
patriotismo. No século xix, dois grandes europeus, Antero de Quental e
Nietzsche escreveram, ao mesmo tempo, quase a mesma coisa: o que separa os
homens é a maior ou menor capacidade que têm de "suportar" a verdade
de que depende a dignidade da vida. A verdade dói, mas a mentira mata. Tenho
muito orgulho em ter assinado este manifesto ao lado de Manuela Ferreira Leite,
ou Bagão Félix, pois a diferença crucial não é entre esquerda e direita, mas
entre a verdade e a mentira. O que une este governo, e o atual diretório
europeu, é a ligação umbilical entre o seu poder e a mentira organizada. O país
e a Europa só poderão sobreviver se forem resgatados de líderes medíocres, com
fobia da verdade.
VIRIATO SOROMENHO MARQUES
Hoje no DN
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