Perguntou o João ”Rolha” ao Vitorino “Espanhol”? - Sei lá! - Respondeu
este. - Pelo que vejo e pelo adiantado da hora já sei que não vais à noitada
das festas do concelho - continuou a bater na mesma tecla o João “Rolha”. - Do
concelho! - Disse com ar aparvalhado o Vitorino “Espanhol”. Que eu saiba são
celebradas no último fim-de-semana de Julho. E, costumo lá ir todos os anos ver
a marcha alegórica. Gosto das críticas que fazem às coisas locais,
principalmente, à Câmara Municipal. Mas, desde já te digo que são a
despropósito. Se há Câmara Municipal que mais evoluiu de há uns dez anos para cá foi
a de Lousada.
- Não são a essas festas do concelho que me estou a referir! -Disse
João “Rolha”. Essas… sei bem, que são no último fim-de-semana de Julho.
Estou-me a referir às do nosso concelho.
- Do nosso concelho! Do teu - alertou Vitorino “Espanhol”. Eu não quero
nada com esse concelho. Olha que até para registar a minha filha foi lá a minha
mulher mas disse que nasceu em casa quando nasceu na maternidade de Paços de
Ferreira. Bem insistiu a funcionária do Registo Civil dizendo que neste tempo era raro se nascer em casa e se faltasse à verdade estava sujeita a perder os subsídios.
Mesmo assim antes preferíamos perdê-los
- Tens mesmo aversão a Paços de Ferreira - disse o João "Rolha".
Por isso o teu apelido de Espanhol cai-te como uma luva como se usa dizer.
- Caiba ou não o problema é meu. - Retomou a conversa o Vitorino
“Espanhol”. O que estou farto é de muitos como tu daqui de Freamunde quando
lhes convém dizem mal de Paços e do Presidente da Câmara como aconteceu há dias
quando deste cabo das jantes do carro nos buracos no lugar de Miraldo. Não te
lembras do que disseste? Que só havia dinheiro para o futebol e festas. - E não
é verdade - disse o João "Rolha"! Já viste o que gastaram com a do
Corpo de Deus.
- Corpo de Deus! - Disse Vitorino “Espanhol”. É a essas que te estavas
a referir? - Era - disse o João “Rolha”. - Olha... não tenho nada contra o Corpo
de Deus, mas roubarem-lhe o dia é coisa que não se faz - disse Vitorino
"Espanhol". Caso não saibas o Corpo de Deus é celebrado sessenta dias
depois da Páscoa. E esses sessenta dias forçosamente calham sempre a uma
quinta-feira. Portanto, gostava de ver eles a celebrar nesse dia como o vinham
fazendo há anos. Ou nós aqui não celebramos o S. António, Senhora da Conceição
e Santa Luzia nos dias do calendário!
- Mas o Mártir S. Sebastião é em Janeiro e aqui é celebrado em Julho -
argumentou João “Rolha”. - Mas não foi para economizar dias de trabalho -
contra-argumentou Vitorino “Espanhol” - desde que me lembro e, não sou criança
nenhuma, que os trabalhadores de Freamunde na segunda e terça-feira de festas
não trabalhavam! E, antes do vinte e cinco de Abril não havia o direito a férias. Era
em horas extraordinárias que se contribuía para esses dias. Portanto não venhas
com essa. Porque de bairrismo percebo e sinto-o.
- Sei que sim - disse João “Rolha” a contra modo. Mas esse teu
bairrismo e de muitos nossos antepassados não evitaram de ser eles os
preferidos para concelho. - Olha que não é bem assim, atalhou Vitorino
“Espanhol” - há dias em conversa com um amigo, sabedor destas coisas, disse que
a família Chaves Velho tinha muita influência nesse tempo e não quis que
Freamunde se tornasse concelho.
- Ora... ora! - disse João “Rolha”. Alguém se convence disso! - Se me
deixares explicar depois talvez me dês razão - disse Vitorino “Espanhol”. E
continuou. Antigamente as Câmaras Municipais eram praticamente cobradoras de
impostos e prestadoras de serviços tais como: nomear os Carcereiros, as Cadeias
eram Comarcãs, e como o nome indica eram elas a determinar as normas e gastos.
Além disso também nomeavam os Regedores e estes os seus Cabos de Ordem. Quem se
negasse era logo visto como um opositor ao Governo. Como a família Chaves Velho
era humanista não queria ver Freamunde com tal missão. Assim nunca propôs
Freamunde e deixou que fosse Paços de Ferreira a desempenhar a missão.
- Diz isso mas não engulo - protestou João “Rolha”. Não! - Retorquiu -
Vitorino “Espanhol”. Queres uns quantos exemplos. - Dá-los! - Anuiu - João
“Rolha”. - Então vão eles - recomeçou Vitorino “Espanhol”. Quem nesse tempo era
mais comercial e industrial? Não era Freamunde! Quem tinha e tem maior número
de habitantes? Não era e é Freamunde! - Até ver, até ver - ripostou João
“Rolha”. Não vês com a nova reforma autárquica e com o desaparecimento da
freguesia de Modelos e transformada num lugar de Paços de Ferreira, este, vai
ficar com mais habitantes que Freamunde!
- Já vi e o que lamento é que os habitantes de Modelos concordem com
isso - disse o Vitorino “Espanhol". Mas enquanto o pau vai e vem folgam as
costas. E, o que me custa a engolir é que o Presidente da Câmara sendo de
Freamunde pactue com esta situação. - De Freamunde o tanas! Disse - João
“Rolha”. Não há muito tempo numa entrevista disse que nasceu no Porto.
- A culpa não é dele. O pai não fez o mesmo que a minha mulher quando
disse que a minha filha nasceu em casa e tinha nascido na Maternidade de Paços
de Ferreira - acrescentou Vitorino “Espanhol”. De qualquer maneira pouca
importa. Nada tem feito por Freamunde. Até te digo mais. Desde o vinte e cinco de Abril
tivemos dois residentes de Freamunde a Presidentes da Câmara e foram os que não
viviam em Freamunde que mais fizeram por Freamunde. - Está bem, concordo
contigo, quando dizes que a culpa foi do pai mas escusava de dizer na tal
entrevista que tinha nascido no Porto - desabafou João “Rolha”. - Sabes como é.
Ao dizer que não nasceu em Freamunde os Freamundenses não gostaram mas os
Pacenses adoraram e próximos de eleições, que parece que foi quando as
proferiu, caem bem nos habitantes das outras freguesias ou não sabes o ódio que
nutrem por nós. E ele sabe que os Freamundenses lhe dão o voto – concluiu
Vitorino “Espanhol”. – Até um dia… até um dia - respondeu João “Rolha”. O povo
de Freamunde não anda sempre a baixar as calças e não gosta que quem é filho de
Freamundenses renegue a sua naturalidade.
- Essa é forte - disse João “Rolha”. Dois residentes! - Sim e se for
preciso volto a repetir - voltou novamente Vitorino “Espanhol” a tomar conta da
conversa. Um diz que não nasceu em Freamunde o outro nunca o referiu portanto
leva-me a crer nisso. Porque se não fosse assim tinham feito mais por
Freamunde.
- Esse é o teu ponto de vista - observou João “Rolha”. Eles dizem que
não os deixam. És como muitos quando referem: “se não és por mim és contra
mim”. Para ti não há meio-termo. - Há, meio-termo, há - disse Vitorino
“Espanhol”. E, essa de dizeres que não o deixam é de corar um santo. Então para
que serve o Presidente! E se isso fosse verdade e se fosse comigo pedia logo a
exoneração. Portanto uma vez que é assim eu puxava tudo para o lado de cima e
nada para o de baixo.
- Sabes o que me fazes lembrar - contestou João “Rolha”. Um outro
Vitorino que um dia num concurso na televisão quando lhe perguntaram de onde
era disse que era de Freamunde. Como o locutor não sabia onde ficava localizado
perguntou qual o concelho e sabes qual a resposta? Fica entre Lousada e S.
Tirso.
- E, achas que não fez bem! - Perguntou Vitorino "Espanhol. - Eu
não acho que fez bem ou mal. No meu caso dizia que era do concelho de Paços de
Ferreira - respondeu João "Rolha". - Mas ele entendeu que não e quem
lá estava era ele - disse o Vitorino "Espanhol".
- Acho que esta conversa vai longa - disse João “Rolha”. - Para mim não
- concretizou Vitorino “Espanhol”. Não tinha intenções de ir a lado algum e
muitos menos a noitadas e com isto evitei que fizesses número nas de Paços de
Ferreira. E tenho a dizer-te que havia de haver mais Vitorinos em Freamunde.
Era a prova provada que o espirito bairrista continuava. O que estou com certas
dúvidas a avaliar pelo que ouvi de ti.
- Não faças tal suposição - doeu-se o João “Rolha”. Olha que nasci na
Gandarela e amo muito esta terra. O que fez falar assim é que gosto de te ouvir
a defenderes Freamunde. - Se gostas não parece - concluiu Vitorino “Espanhol”.
E, vou fazer o que disseste. Vou para o aconchego da casa que é lá e em
Freamunde que estou bem.
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