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domingo, 16 de junho de 2013

As escolas Amarelas:


Há pessoas, instituições, edifícios, colectividades e outras coisas mais que nasceram predestinadas. Ainda bem que assim é. Há outras coitadas que nunca saíram da cepa torta. Não foi o que aconteceu às Escolas Amarelas. A sua vizinha de tantos anos teve sorte contrária. Estou-me a referir à Escola da D. Rita como foram sempre conhecidas. Esta, e aqui aplico a frase de coitada pois que serviu para um pouco de tudo. De sala de aula durante décadas, a sala-estúdio da Rádio Inovason, a edifício de Finanças e mais tarde Junta de Freguesia. Depois de todos estes contratempos foi demolida e assim acabou o edifício onde uma grande parte de Freamundenses aprendeu o ABC da instrução primária.
Nunca ali frequentei o ensino primário mas sinto como os que o frequentaram a nostalgia por esse edifício. Sabe-se de antemão que tudo que nasce ou é construído um dia tem o seu fim. É o que vamos constatando no dia-a-dia: uma morte, a demolição de uma casa. É o que previa para as Escolas Amarelas.
Ali andei quatro anos. Tive como Mestre Escola o professor Francisco Valente que me ensinou as primeiras frases e letras a que pela vida fora sempre recorri. O M somado ao A, N, U, E e L que antes desta soma já o referenciava quando me perguntavam como me chamava.
O somar e subtrair, o multiplicar e o dividir tudo me foi ensinado pelo professor Francisco Valente. Durante três anos me ensinou e nenhum de nós passava se não soubesse estas disciplinas assim como a tabuada de cor e salteada.
Depois destes anos tive como Professora a D. Adelina. Se com o professor Francisco Valente tínhamos que ter na ponta da língua tudo o que nos era perguntado ou transcrito no quadro a professora Adelina era mais exigente. Também se compreendia. Era o último ano de instrução para a maioria de nós. Um ou outro seguiu os estudos. A mim e tantos outros como eu seguimos os da "Universidade da vida".
Só que as Escolas Amarelas ali continuaram a preparar outros alunos. Passava ali diariamente a caminho da minha "Universidade da vida". E que universidade era a fábrica de Albino de Matos Pereira & Barros - (Fábrica Grande).
Passados uns anos de sair da escola foram inauguradas as de Santa Cruz. Com esta inauguração, mais tarde, deu-se a demolição da Escola da D. Rita. É como se usa dizer: o nascimento por vezes trás morte. Aqui aconteceu como a muitas mulheres que ao dar à luz sucumbem.  
Os anos foram passando e previa o mesmo final para as Escolas Amarelas - como o final que teve a Escola da D. Rita - com a inauguração das Escolas de Outeiro. Mas não! As Escolas Amarelas derivado à sua história ou características resistiram a tudo.
Até que há uns dois anos com a inauguração do Centro Escolar de Freamunde disse para os meus botões: - o teu fim chegou. 
E ainda mais quando às de Santa Cruz foi dado o destino de futuro Posto da G. N. R. de Freamunde e de instalações da Banda Musical de Freamunde. 
As de Outeiro tiveram a sua demolição mas os seus terrenos foram incorporados na Escola Secundária de Freamunde.
Com tudo isto e derivado a que as Câmaras Municipais estavam a reduzir custos com estes edifícios pressenti que as Escolas Amarelas iam ser vendidas a qualquer particular para urbanização. E custava-me essa ideia. Palavra de honra que custava. 
Os nossos primeiros amores são os que estão sempre na nossa memória. E as Escolas Amarelas não fugiam a essa regra. 
A tristeza que sentia quando a via mais suja ou desleixada. Se esse era o meu sentimento agora vejam qual não seria a sua demolição.
Por isso a minha alegria quando soube que a Câmara Municipal doou as Escolas Amarelas para sede e casa de ensaios ao Grupo Teatral Freamundense e à Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós. 
Se foi casa de cultura pelo tempo fora e, não foi pouco, continuará a sê-lo enquanto estas associações o entenderem. 
O que não senti com a inauguração de hoje. Como prova disso escrevi este texto. As Escolas Amarelas merecem-no.
Também vão umas palavras de agradecimento da minha parte e, como sócio da Associação Pedaços de Nós, ao senhor Vereador do Pelouro da Cultura, António Coelho, pelo trabalho que tem desenvolvido pela cultura de Freamunde. Actos destes são de louvar e reconhecer.      

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