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quarta-feira, 29 de maio de 2013

O pior cego é aquele que não quer ver:

Este título vem a propósito de uma carta que o actor de teatro Ruy de Carvalho escreveu às Finanças sobre a desclassificação de “Artista” para “Prestador de Serviços. Não quero com isto dizer que não tem razão. O andar de cavalo para burro é no mínimo motivo para desconforto de qualquer ser humano. Mas quantos passaram por isso e Ruy de Carvalho não se incomodou. 
Havia em tempos quem se incomodasse e opusesse a este tipo de situação. Era a chamada classe intelectual. Hoje esses intelectuais - para não dizer Ruys de Carvalho - só olham para o seu umbigo. Depois é como no “Intertexto” de Bertold Brecht:
“Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro. 
Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário. 
Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável. 
Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego. Também não me importei. 
Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém. Ninguém se importa comigo.”
Se não fosse este caso tudo continuava como dantes no Quartel de Abrantes.
Ruy de Carvalho continuava a apoiar este Presidente da República, aliás quando foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, só faltou beijar a mão a Cavaco Silva por tal lembrança. 
Não se incomodou de apoiar Passos Coelho para Primeiro-ministro e com isto não reeleger um Governo que fez muito pela Cultura e pelo Teatro.
O andar de olhos vendados ou só pensar em si e nos seus é o que dá: comiseração. 
E, os portugueses tão cedo não se esquecerão do alheamento dos seus intelectuais pelos plebeus. Estes não tem notoriedade e voz para revindicar o que quer que seja. 
Mas eram os que contribuiam para que a classe de “Artista” vingasse, ao contrário dos pseudo-intelectuais que os vê e lhes atribuem a de “Prestadores de Serviço.
Por isso, para o cego começar a ver, nada como lhe mexer na venda que durante muito tempo transportou nos seus olhos. Ou calcar os calos para saberem como são as dores. 
Só que mesmo com o mexer na venda ou calcar os calos julgo não ser suficiente porque a qualquer momento alguma latada deixa cair uma parra.

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