Como era de esperar regressou em grande. Mesmo com dois entrevistadores
que por tudo e nada o interrompiam ou não o deixavam acabar a resposta porque
lhe faziam outra e mesmo assim dava água pela barba, como se costuma dizer, a
Victor Gonçalves e Paulo Ferreira. Com isto não quero dizer que os
entrevistadores não o contrariassem. Devem-no fazer. Mas quando fazem perguntas
devem deixar o entrevistado responder.
Que se desiludem os politólogos que achavam que José Sócrates ia ali
para ajustar contas com António José Seguro ou alguns membros do Partido
Socialista. O interesse dele era demonstrar o quanto foi enxovalhado pela
direita e alguma esquerda portuguesa. Que alguns que não são nenhuma
referência, caso Morais Sarmento, para atirar pedras. Não se lembra do seu
passado!
O que os comentadores políticos
queriam era que José Sócrates fosse para ali continuar a levar “porrada” como
aconteceu nestes dois anos. Por isso lembro os escritos de Emilce Shrividya
Starling.
“Havia, em um campo, uma grande e venenosa cobra. Ninguém se atrevia a
passar por ali, pois ela mordia a todos. Um dia, um santo passou por aquele
caminho e a cobra preparou –se para mordê-lo. Porém, quando se aproximou do
santo, perdeu toda a sua ferocidade e foi dominada pela doçura e suavidade do
Yogue. Vendo-a, o sábio lhe disse: “Bem, minha amiga, pensas em morder-me?
Envergonhada, a cobra nada replicou. Então, o sábio prosseguiu:” Ouça, amiga:
não tornes a fazer mal a ninguém para o futuro”. E o sábio seguiu seu caminho e
a cobra concordou com suas palavras e passou a viver sem morder e sem molestar
a ninguém.” Com o tempo, todas as pessoas da vizinhança chegaram à conclusão de
que a cobra perdera seu veneno e de que já não era perigosa; e assim começaram
a maltratá-la. Jogavam pedras nela, puxavam seu rabo sem piedade; estava quase
morta e seu sofrimento não tinha fim.
Era isto que os tais comentadores políticos queriam que José Sócrates
continuasse a fazer. Só que quem não se sente não é filho de boa gente.
“Felizmente, tornou a passar o sábio pelo mesmo caminho, e vendo a
triste condição da serpente, tão maltratada, ficou muito comovido e lhe perguntou
a causa deste sofrimento.
“Santo Mestre— respondeu a cobra--- isto é devido a que não faço mal a
ninguém, desde que me deste vosso conselho. Mas, ai! as pessoas são tão
cruéis!”
O sábio, então lhe disse: “Minha amiga, eu simplesmente te aconselhei
que não mordesses a ninguém; porém não te disse que não os assustásseis. Mesmo
que não devas morder a nenhuma criatura, contudo deve se defender e manter as
pessoas à distância, atemorizando-as com teus silvos!”
A cobra seguiu as instruções do santo e compreendeu que é importante se
defender. Quando alguém passava, levantava a cabeça e silvava; evidentemente,
ninguém se aproximava e as crianças e os adultos pararam de perturbá-la e a
cobra recuperou a saúde e a paz.
Julgo que com esta entrevista José Sócrates conseguiu demonstrar à
maioria dos portugueses que a maioria das afirmações que lhe fazem e ao seu
governo não passa de embustes. Que falar é fácil mas o mais difícil é o
demonstrar. O mais bonito é que há dias ouvi Almerindo Marques, num inquérito
às Parcerias Públicas Privadas, dizer que o que está em primeiro lugar é provar
as afirmações que se fazem. Disse que certas acusações lhe fazem lembrar a
inquisição. Não basta acusar. É preciso provar. E, estas palavras eram
dirigidas ao Tribunal de Contas e até hoje não ouvi ou li por parte do tribunal
algo a desdizer Almerindo Marques.
Era o que o PSD e CDS queriam e querem fazer a José Sócrates. Só que
este pode estar calado durante dois anos mas não se acobarda. Que o diga Cavaco
Silva. A noite para o lado de Belém deve ter sido mal dormida. Mas não foi pelo
que José Sócrates disse: foram os remorsos de consciência.
Também a frase, "abandonai toda a esperança", de Dante, na Divina Comédia, foi uma forma de contradizer Passos Coelho quando disse que a melhor solução para o País está na emigração, no desemprego e que o salário mínimo não deve aumentar.
Também a frase, "abandonai toda a esperança", de Dante, na Divina Comédia, foi uma forma de contradizer Passos Coelho quando disse que a melhor solução para o País está na emigração, no desemprego e que o salário mínimo não deve aumentar.
Assim José Sócrates aproveitou esta entrevista para dizer aos portugueses que não faz mais como a cobra. Que sempre que o calquem os enfrenta com o "tomar a palavra".
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