Há histórias que nos levam a pensar que somos nós as suas personagens. Pretendemos
ser o actor que pratica o bem e relegamos para os nossos inimigos o papel de
mau. Acontece com tudo e em tudo. Ainda me lembro de em pequeno ler a “Bela adormecida”,
“ “Ali Babá e os quarenta ladrões” e outras mais que embelezavam o meu
subconsciente. Em cada me revia o personagem principal.
Na “Bela Adormecida” tornei-me em Príncipe encantado, em “Ali Babá e
os quarenta ladrões“ de Pobre lenhador, em que me torno rico, quando descubro, a
fórmula de abrir e fechar a caverna com as célebres frases: “Abre-te Sésamo e
fecha-te Sésamo“. Quando a história acabava o meu subconsciente dava por bem
empregue esse tempo de meditação.
Depois via o quanto a realidade era diferente. A vida tornava-se
agreste e dura para quem era filho da pobreza e humildade. Pretensões havia mas
oportunidades eram exíguas. Sabíamos o que nos esperava. Fim do ensino primário
e a espera de ser operário ou agricultor. Tanto valia as nossas competências
escolares como não. Se eras filho das profissões referidas em cima tinhas que ter
essas. Mesmo com dez ou onze anos tinhas que te adaptar a esses ofícios. A
idade mínima para trabalhar eram os catorze. Quantas corridas e escondidas tive
de fazer para não ser apanhado pelos fiscais do trabalho.
Mas tanto ontem como hoje ainda revejo as histórias. Comparo-as com
algumas que estão na actualidade e vejo o papel que é dado a quem nada fez na
vida. Não têm vida ou história a não ser a que algum contador lhe dedique. Por
isso e para voltar a pôr o meu subconsciente, embora mais gasto pelo peso da
vida, gosto de ler certas histórias mas nesta não quero ser o protagonista.
“Enquanto suturava um ferimento na mão do velho Sábio, cortada por um
caco de vidro indevidamente jogado no lixo, o médico e o paciente começaram a
conversar sobre o país, o governo e, fatalmente, sobre Passos Coelho.
O velho Sábio disse: "Bom, o senhor sabe... o Passos Coelho é como
uma tartaruga em cima de um poste...".
Sem saber o que o Sábio quis dizer, o médico perguntou o que
significava uma tartaruga num poste.
E o Sábio respondeu:
É quando o senhor vai indo por uma estradinha, vê um poste e lá em cima
tem uma tartaruga tentando equilibrar-se. Ora, isso é uma tartaruga num poste.
Diante da cara de interrogação do médico, o Sábio acrescentou:
Você não entende como ela chegou lá;
Você não acredita que ela esteja lá;
Você sabe que ela não subiu para lá sozinha;
Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
Você não entende porque a colocaram lá;
Você sabe que ela não vai fazer absolutamente nada enquanto estiver lá;
Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá, e
providenciar para que nunca mais suba, pois lá em cima definitivamente não é o
seu lugar."
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