"Pouco tempo depois o rei viu chegar uma embaixada faustosa do rei
vizinho incumbida de entregar ao bom príncipe os mais ricos presentes em
agradecimento por ter ele salvo o reino da fome e da invasão do inimigo. Diante
disso o rei se pôs a reflectir: "Meu filho seria inocente?" e
comunicou aos que o serviam: "Como me arrependo de o ter mandado matar!
Ah, se ainda estivesse vivo..." Encorajado por estas palavras o caçador
revelou a verdade. Disse ao rei que o bom príncipe estava vivo mas em lugar
ignorado. Imediatamente o rei mandou um arauto a proclamar por todo o país que
considerava o filho inocente e que desejava imensamente sua volta. Mas a
notícia não chegou ao príncipe; encontrara seu amigo anão, que lhe dera ouro
suficiente para poder viver como um filho de rei.
Nesse ínterim a princesa do castelo encantado que ele livrara do
sortilégio mandara construir uma avenida toda calçada com chapas de ouro maciço
e pedras preciosas que conduzia directamente ao castelo, explicando aos seus
vassalos: "O filho do rei que será meu esposo não tardará a chegar; virá a
galope bem pelo meio da avenida. Mas se outros pretendentes vierem, cavalgando
à beira da estrada, expulsem-nos a chicotadas." Com efeito, dia por dia,
um ano depois do jovem príncipe ter penetrado no castelo, o irmão mais velho
achou que podia se apresentar como sendo o salvador e receber a princesa por
esposa. Vendo aquela avenida calçada no meio de ouro e pedrarias não quis que o
cavalo estragasse com as patas tanta riqueza que já considerava sua e fez o
animal passar pelo lado direito. Quando chegou diante do portão e disse ser o
noivo da princesa todos riram e depois o correram de lá a chicote.
Pouco tempo depois veio o segundo príncipe, e vendo todo aquele ouro e
jóias pensou que seria um pecado arruiná-los; fez o cavalo galopar pelo lado
esquerdo e se apresentou como sendo o noivo da princesa. Teve a mesma sorte do
irmão mais velho: foi corrido a chicote. Findava o ano estabelecido e o
terceiro príncipe resolveu deixar a floresta para ir ter com sua amada e a seu
lado esquecer as mágoas. Pôs-se a caminho pensando só na felicidade de tornar a
ver a linda princesa; ia tão embebido que nem sequer viu que a estrada estava
toda coberta de pedras preciosas. Deixou o cavalo galopar pelo meio da avenida,
e quando chegou diante do portão do castelo este lhe foi aberto de par em par.
Soaram alegres fanfarras e uma multidão de fidalgos saiu para recebê-lo.
Dentro em pouco apareceu a princesa, deslumbrante de beleza, que o
acolheu cheia de felicidade e declarou a todos que ele era seu salvador e
senhor daquele reino. As núpcias foram realizadas imediatamente em meio as
esplêndidas festas.
Terminadas as festas, que duraram muitos dias, ela lhe contou que seu
pai o havia proclamado inocente e desejava vê-lo de novo. Acompanhado da rainha
sua esposa ele foi ter com o pai e contou-lhe tudo que se passara: como fora
traído pelos irmãos e como estes o obrigaram a se calar. O rei, extremamente
irritado contra eles, mandou que seus arqueiros os trouxessem à sua presença a
fim de receberem o castigo merecido, mas vendo suas maldades descobertas eles
tinham tomado um barco tentando fugir para terras longínquas para aí esconderem
sua vergonha. Não o conseguiram. Sobreveio uma tremenda tempestade que tragou o
navio e eles pereceram miseravelmente."
Um conto de fadas dos Irmãos Grimm
Um conto de fadas dos Irmãos Grimm
Fim
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