Rádio Freamunde

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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Santa Luzia e a feira dos capões:

“Por isso, Freamunde se engalana em cada 13 de Dezembro, para dispor aos olhos do potencial comprador e lhe aguçar o apetite, a espécie real (“capão de oito meses para a mesa do rei” – dizia o rifão) e acentua-se a sua auréola de “terra de capões”. A feira em que o capão é “rei e senhor” mas em que aparece de tudo (o interesse do peru está a decair), coincide com a data em que a liturgia católica venera Santa Luzia, a protectora da visão e das doenças dos olhos, devoção que atrai muita gente também a esta cidade e faz encher a capela de Santo António, onde está a imagem da homenageada. Aqui vinham ter turistas e negociantes de todo o lado e até da Galiza. Os espanhóis vinham oito dias antes. No início do século ficavam na Pensão Cardoso e outras. Muitas vezes traziam rendas para comerciar. Os de Paços diziam, “vamos à feira aos espanhóis?”. Seria daí que passaríamos a ser apelidados por eles, de espanhóis.”
De madrugada ouvia-se o roncar de motores dos poucos veículos com artefactos para serem vendidos na feira dos capões. Estes eram acarretados à cabeça em cestos ou em carros de bois. De manhã cedo os Freamundenses eram acordados com o barulho do montar das tendas, umas com samarras e sobretudos a avisarem que o Inverno ia ser agreste; outras com bijutarias, calçado, legumes, pão e doçaria, mel para adoçar os formigos e a aletria, pinhões, que além de servir para condimento dos ditos formigos, eram usados para se jogar na véspera de Natal ao Rapa. Mas o essencial da feira era os capões. Havia a venda de perus mas eram ignorados pela formosura e riqueza da carne do capão.
“Vai o capão por regalo
Porém, eu bem creio já
Que a vocês lhes pesará
Que o capão não seja galo”


Na década de sessenta não faltava capões expostos e a sua procura era muita. Vinham excursões de todo o norte do País além de carros particulares à sua procura. O trânsito não passava no centro da vila, àquela época, hoje cidade, e tinha de se acomodar nos seus arredores, calhando a alguns ficar a quilómetros do arraial. Os vendedores de capões e perus não os transportavam à viatura do comprador e este que vinha vestido a preceito não se expunha à sujidade que o galináceo podia provocar. Assim “nasceram” os carregadores de capões.
Para isso era preciso estar próximo do negócio. Assim que ele fosse realizado os mais expeditos agarravam-se ao galináceo com a finalidade de fazer o seu transporte. Não havia uma relação de comprador/carregador quanto ao pecúlio pago, deixando para a posteriori esse acto. Regra geral, nessa época, eram dados 2$50 a cada carregador, havendo alguns que nos surpreendiam com mais, como me aconteceu na feira de S. Luzia de 1960 que a mim e a outro rapaz nos deu 20$00 a cada um. Ficamos atómicos! Já tinha ganho 2$50. Com aquele dei por terminado a minha manhã de carregador.         
Hoje não se vê carregadores de capões e perus. Os tempos mudaram e a procura pelos galináceos não é o que era. A maioria que os adquiria fá-lo agora nas proximidades do Natal e em casa do criador. 
Naquele tempo a Indústria local não laborava. Por isso a feira de S. Luzia era muita concorrida e fazia-se muito negócio. Hoje há muitos reformados e desempregados por esse motivo vai ser muita concorrida mas o negócio prevejo-o fraco. A confiança na Economia do País era melhor. Com os cortes que o governo introduziu nos bolsos dos Portugueses, para não dizer outra coisa, leva a que esta feira seja das mais pobres de que há memória.
Manteve-se o dito popular: Conceição de sol Luzia de chuva. 

1 comentário:

  1. rui.machuqueiro@hotmail.com15 de outubro de 2013 às 12:16

    O que eu quero e saber aonde se pode comprar os bicharocos para se poderem criar em casa porque existe muitas historias sobre os capões mas não consigo encontrar informação sobre vendas e penso que isso faz parte da divulgação e da sobrevivencia que e por isso que nos estamos cá

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