Em Freamunde havia bastantes. Umas com serviço de mercearia outras
simplesmente tascas. Era miúdo e lembro-me delas e do seu funcionamento. Ia
para casa dos meus avós em Freamunde de Cima e num espaço de cinquenta metros
havia duas: Sejuca e Toninho Carvalho. Aos domingos o meu avô António Pacheco
levava-me com ele à tasca do Sejuca onde ia jogar sueca. Recordo-me dos
acessos, do seu interior não tanto. Os homens que ali iam jogar se hoje fossem
vivos deviam rondar para cima dos cento e dez anos. Desta falo mais
pormenorizadamente porque ali à beira era a casa dos meus avós, para mim,
segunda casa. Era uma pobre casa e casa de pobres mas sentia-me bem - era um
deles. Várias vezes ali dormi.
Naquele tempo não existia a televisão, só telefonia. Quem jogava à sueca
não perdia a atenção ao jogo por que não precisava de olhar para o rádio para
ouvir o golo, a jogada mais perigosa, ou a fantasia que o locutor imprimia ao
relato para o tornar mais comentado - anos mais tarde ouvi Artur Agostinho a
dizer que usavam essa técnica - na do Toninho Carvalho cheguei a ir acompanhado
com o meu pai.
Na Feira, ou seja, no centro de Freamunde havia umas poucas: a do
Ramiro, Elviras, Sr. Artur (28), Américo Taipa, o que aqui se falava de
futebol, - parecia a sede do Sport Clube de Freamunde - ciclismo e outras
modalidades, o cortar na casaca de tantos freamundenses; a do Sr. António da
Praça, ainda me recordo do bilhar de matraquilhos onde ali gastei várias moedas
de cinco tostões; a dez passos a do Santa Marta que depois passou para o Neca
Costa - para ir viver para Angola – mais tarde, até ao seu encerramento foi do
Zé Viana; a do Abílio da Locádia nos dias de feira de Freamunde (13 e 27) em
que defronte a ela era a feira do gado; em frente, a do Sr. Ernesto Taipa, que
além da sueca se jogava à bola de pau; do Ilídio Carneiro (14) era tio do meu
pai por parte de mãe, sempre de pose... austera.
Na Gandarela havia duas. A do Sr. Augusto Cardoso, - mais tarde da sua
filha Arminda - no fim dos treinos de futebol, comia-se umas bolas de carne,
oferecidas pelo Sr. Anselmo Marques, com a finalidade de se beber umas copadas
de vinho, a da Estininha, quase em frente. Só existe esta e explorada pela sua
nora Laura.
Na Plaina, a do Cancela, jogava-se á sueca e depois comia-se um
bacalhau à CDS. Podia haver mais uma ou outra mas de momento não me lembro.
Em todas elas jogava-se à sueca, umas com mais assiduidade que outras.
Havia jogadores com vários estilos. Uns que quando tinham trunfos e bom jogo,
jogavam como mandam as regras, primeiro destrunfavam, só depois jogavam os ases
e cartas de valor. Outros que faziam o seu contrário. Jogavam as cartas de
valores: ases, biscas e outras mais e quando o jogo estava a findar mostravam
os trunfos e diziam é tudo meu, mas... o jogo há muito que estava perdido.
Havia um que nesse tempo abusava dessas jogadas mas com esta técnica, ficou
celebrizado para todo o sempre, como o jogar à Zé do Lopes.
A maioria delas fecharam. Hoje para se jogar à sueca é nas esplanadas
dos cafés, algum aposento que o café tenha ou no seu interior, isto de segunda
a sexta-feira. Nos fins-de-semana são mais para os casais que ali vão tomar
café e pôr a conversa em dia. É um fartar de fazer barulho por parte dos
jogadores, nos quais me incluo, em que os moradores vizinhos são obrigados a
suportar.
Todos têm as suas características de jogo. Não há quem se considere
regular. Todos são bons! Quando perdem desabafam: a sorte ganhou ao saber.
Quando é o seu contrário dizem que são "tubarões" da sueca. Não sei
de onde vem este termo mas… não passam de um Zé do Lopes.
O que nos vêm à memória quando o assunto era... tascas.
Muito interesante - não havera umas fotografias dessas tascas todas? Mais histórias?
ResponderEliminarz8
z8:
ResponderEliminarQuem sabe! Em Freamunde, em certas coisas, temos o hábito de querermos ser individualistas e não partilhar com outros e assim se perdem documentos ou fotografias que podiam ser mostradas ou publicadas. Também não possuímos um arquivo. Na era da blogosfera há vários blogues em Freamunde que podiam fazer de arquivos para lembrança futura. Quantos Freamundense anónimos ainda o eram se não tivéssemos «o nosso Poeta, Rodela!»