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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Guarda Prisional:


De todos os intervenientes que fazem parte de um Estabelecimento Prisional, Director, funcionários civis e guardas prisionais, os mais mal vistos pela sociedade são estes últimos.
Contudo acho que a culpa não é deles mas de quem está à frente da Direcção Geral dos Serviços Prisionais. Não me refiro aos actuais mas a todos que por lá passaram, ao não dar conhecimento do que de mal e bem se pratica. Aqui não deixo de censurar o Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, por nos momentos de defesa tentarem de todo o modo ilibar os seus associados. Não separando o trigo do joio. 

Nestes sítios todos são precisos, senão não havia razão para a sua utilização. Entendo no entanto que todos deviam de ser um corpo só. Trabalhar todos em prol da mesma causa, deixar de haver rivalidades, elogios quando tudo corre bem, e passar as culpas quando corre mal. Sabemos que vários sectores são ou querem ser os meninos bonitos do sistema, havendo alturas em que se tem de dar um não em lugar de um sim tremido e fazendo crer que a culpa é sempre dos outros. Quantas vezes éramos apelidados de maus de não querer ver certos problemas. Isto era dito pelos reclusos nas conversas com funcionários de organismos como Educação e Ensino e Reinserção Social.
No que me toca não gosto de fulanizar mas se não fossem os guardas prisionais não sei o que seria dos reclusos. Estão constantemente com eles, desde o abrir da cela ao seu encerramento, nas boas e más situações e, há situações bastantes melindrosas.
Nos seus desabafos, quantas vezes nos estão a contar algo e temos que mostrar interesse, mostrar-lhes que não estão desprezados, que fazem parte deste mundo e que se espera deles a sua integração na sociedade.
As várias celas que anotamos na folha de distribuição nocturna para ser vistoriadas, porque desconfiamos que os seus ocupantes andam com fracas ideias, outros que derivado ao seu estado psicológico, querem pôr termo à vida, um sem número de situações. Nunca tive a infelicidade de quando era guarda, ao abrir uma cela encontrar algum recluso enforcado, mas ouvi de guardas que é uma sensação que fica para toda a vida. Suportar reacções de outros acusando-nos de sermos os seus autores incluindo a sua família – estes que só se prestam a criticar a instituição, nunca os apoiando nos maus momentos, parece que a finalidade é receber algo em troca.
Não fazem uma auto-critica da maneira como procederam com eles, abandonando-os quando mais precisavam dos pais. Quantos me disseram que nunca tiveram um carinho deles, não sabiam o que era um beijo paternal ou maternal, eram filhos da ocasião, viveram a vida sabem lá como. Outros que vinham desabafar da atitude de alguns guardas, tendo-lhes dito que deviam ter mais consideração por eles, do que por nós subchefes e chefes, que eram eles (guardas) que estavam sempre presentes nas boas e más horas.
A vida dentro de uma cadeia é uma incógnita há dias que vamos contentes para casa após o cumprimento do serviço, outras frustrados pela nossa impotência, o serviço não correu como o planeado e por sentirmos uma certa injustiça. Também cá fora sentimos que tudo não é perfeito, a vida é feita por humanos e estes estão sujeitos aos erros. Se estes erros forem o garante de numa próxima vez não voltar a acontecer, já alguma coisa se ganhou.
Também há os reclusos que estão sempre contra tudo. Seja a alimentação, ou outra coisa qualquer. Sobre a alimentação quantas vezes lhes disse que quando chegava a casa não me importava de ter uma alimentação igual. A maioria que reclamava era a que infelizmente tudo lhes faltava. Em liberdade andavam pelos contentores do lixo à procura de algo.
Um dia estava num supermercado e um ex-recluso andava a pedir. Quando me viu sentiu vergonha e disse-me que antes preferia pedir do que roubar. Disse-lhe. - Tantas vezes desprezou o comer que lhe era servido e agora quem lhe dera um prato dessa comida. Respondeu-me. - Quem me dera.
Outras vezes no refeitório, no acto do almoço ou jantar, disse a vários reclusos que contestavam a alimentação, que a maioria da população mundial não se importava de ter uma alimentação assim. Estas palavras não eram contestadas pela maioria dos que se encontravam no refeitório. Aliás baixavam a cabeça dando a entender a sua vergonha e concordância.
Se não fosse o sistema de saúde que existe nos Serviços Prisionais a maioria deles já não existia, principalmente os portadores do HIV e das Hepatites tanto A como B.
As cadeias deviam de ter uma classificação. Esta classificação feita por entidades competentes, só assim é que se podia melhorar e competir umas com as outras e julgo que ganhavam todos os seus intervenientes. Havia um rumo e um objectivo a atingir. Assim anda-se à espera de melhores dias a tomar soluções em cima do joelho, uma grande parte ao deus dará. Nas que são bem dirigidas nota-se um bom ambiente, na maioria delas o ambiente é bem pior para não usar outro termo.
Por tudo isto entendo que as Cadeias deviam de ser mais abertas à sociedade e comunicação social, com esta, a fazer intervenções isentas e não à procura de protagonismo.

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