No Expresso da Meia-noite conseguiram passar os meses de Outubro e Novembro sem gastarem um segundo com as questões da Justiça — ou seja, censuraram por omissão o que se passou, e passa, com Ivo Rosa. Mas eis que entra Dezembro e tornou-se impossível continuarem calados sobre essa desgraça nacional, tamanho o escândalo, de dimensão inaudita, que atinge o Ministério Público e outros órgãos policiais e judiciais conexos. Vai daí, Sócrates.
Ninguém é obrigado a consumir produtos jornalísticos da Impresa. E quem paga as despesas da coisa tem o privilégio de cagar d’alto no código deontológico do jornalismo e demais princípios que apelem à isenção, rigor e serviço público na profissão de jornalista. Certo. Mas não deixa de surpreender o sectarismo — se não for obsessão persecutória — às escâncaras que produzem contra Sócrates. É como se ele continuasse a ser uma ameaça política aos interesses que os fulanos que regem o editorialismo da SIC e do Expresso têm por função defender. Ou então é apenas canalhice nascida da inveja e do ressentimento, agora exuberante por se exibir como linchamento de uma vítima.
Atente-se neste título: “Sócrates e escutas Influencer: isto é Justiça?”. A intenção é dupla, transmitindo uma equivalência negativa (se as escutas a Costa são motivo de crítica, o facto de Sócrates continuar a usar os seus direitos para se defender também merece crítica) e conseguindo desvalorizar o caso Influencer (ficando nivelado pelas maldades de Sócrates, portanto não justificando especial indignação nem alarme). No texto do programa, escreve-se algo tão pérfido que chega a ter o mérito de se assumir ingénuo: “Entretanto, o julgamento de Sócrates vai-nos fazendo corar de vergonha, de tantas manobras e atrasos.” A lógica é sempre, sempre e sempre a de atribuir a Sócrates a responsabilidade da “demora” em ser levado para o calabouço por estar a cometer algum tipo de ilícito moral carimbado como “manobras”. Manobras que os tribunais, coitados, não conseguem impedir visto estarem a respeitar a lei, chatice do caralho. A lei, no que toca a Sócrates, devia ser suspensa em nome da urgência popular em vê-lo destituído de direitos e de defesa por qualquer advogado, eis o sentimento içado como bandeira pela enésima vez no editorialismo “de referência”.
Assim, espanta que tenham chamado Garcia Pereira para o programa. Ângela Silva foi rápida a mostrar que o desprezava, pelo que não terá vindo dela o convite. A martelo, conseguiram meter Sócrates na conversa só para o título não acabar absurdo. Ao minuto 38, ao ouvir a Ângela clamar contra a “vergonha” de se ver Sócrates a defender a sua inocência e a pedir que o Zé Manel afiasse o dente contra os direitos e garantias dos cidadãos, Garcia Pereira explodiu de impaciência e asco. E então, finalmente, ouviu-se no Expresso da Meia-noite a denúncia do gravíssimo atentado contra o Estado de direito ocorrido na devassa a Ivo Rosa por causa do Processo Marquês. Pela honrada e corajosa boca de Garcia Pereira.
O Zé Manel, falando logo de seguida por pressão dos serviçais do mano Costa que não queriam ouvir falar em Ivo Rosa, vingou-se. Foi buscar o Face Oculta para caluniar Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento usando uma das mais estúpidas teorias da conspiração bolçadas pela direita decadente: as “escutas destruídas” onde Sócrates falava com Vara como amigos íntimos a gozarem com o quotidiano político de 2009. Só um poço sem fim de ódio mesquinho e torpe se presta a esta desamparada figura. As tais escutas apenas no plano formal foram destruídas, como a lei impunha visto terem nascido de espionagem política. Não só foram publicadas ao tempo como foi notícia que em Aveiro havia (e há) cópias integrais do que foi registado na mão de procuradores e juízes. Finalmente, tanto Pinto Monteiro como Noronha do Nascimento, nos anos seguintes, por diversas vezes disseram em entrevistas que Sócrates devia ter permitido a publicitação oficial das escutas visto elas não terem qualquer indício de crime. Mas tinham muito sumo da sua privacidade mais pícara, pelo que terá sido esse o motivo para não aceitar tamanha exposição para a história.
Que pena não se poder votar em Garcia Pereira para presidente de uma coisa qualquer, nem que fosse uma junta de freguesia ou um grupo excursionista e almoçarista.
11 Dezembro 2025 às 9:27 por Valupi
Do blogue Aspirina B
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