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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Raquel Varela e Adriano Zilhão - Do 25 de Novembro aos nosso Dias (Bertrand):

Os militares que estiveram envolvidos na saída dos paraquedistas de Tancos deram a Raquel Varela os seus testemunhos sobre quem deu a ordem de saída, com o compromisso de que só seriam publicados depois do acordo de todos e, para um deles, após a morte do responsável militar que teria dado a ordem. Esse compromisso foi, naturalmente, honrado.
Entretanto, do mesmo passo que sintomas de barbárie social se aprofundam no mundo, vivemos os anos mais recentes embrulhados no denso nevoeiro da crise política, aparentemente sem resolução, refletido na simbiose crescente entre liberalismo e neofascismo, no crescimento da extrema-direita, no enfraquecimento do PCP e do PS. Estes últimos partidos procuram defender as opções políticas que tomaram na revolução portuguesa, no 25 de Novembro e ao longo destes 50 anos. Mas que opções políticas foram essas? Havia risco de guerra civil? De um «banho de sangue»?
Sem surpresa, o epicentro da atual luta ideológica passou pelo Parlamento, recomposto com as forças da extrema-direita, e pela Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, locus da disputa. A estatização da memória, via celebrações oficiais e instituições do Estado, impede uma explicação e um debate histórico, devorando a própria cronologia, como veremos, e fagocitando instrumentos essenciais do ofício do historiador: a reflexão teórica, o mapa do caminho; o rigor metodológico, porque não vale tudo; o domínio do estado da arte, reconhecendo o que já foi feito; e a cuidada crítica das fontes, porque os factos nunca falam por si.
Neste livro procuramos dar a conhecer a história da contra revolução.O 25 de Novembro é um dos pontos nevrálgicos desse processo: processo, não evento pontual. Procuramos estabelecer um diálogo entre conceitos, essas armas de que falava Broué, e fontes. E dar aos leitores perguntas e hipóteses, para que ousem pensar por si. Foi nosso propósito fazer a história da contrarevolução olhando para os regimes políticos destes 52 anos: regimes, no plural.
Estabelecemos como marcos várias etapas: entre o 25 de Abril de 1974 e fevereiro de 1975; a crise revolucionária aberta, de fevereiro a 25 de Novembro de 1975 e desta data até ao fim do «pacto social», em 1986, com a adesão do país à Comunidade Europeia e a adesão da maioria das direções sindicais e dos principais partidos à «concertação social», seguindo o modelo corporativo da CEE, o período dito do «neoliberalismo», de ataque continuado aos direitos e conquistas sociais da revolução (geralmente conhecidos sob a designação ambígua de «Estado Social») como objetivo de os substituir pelo mero assistencialismo de Estado, 1986 e 2008; e o colapso dos partidos da esquerda parlamentar, revendo--se o seu papel desde a queda da URSS, em 1991, até aos dias de hoje.
Procurámos tomar como horizonte a capacidade de contribuir, humildemente, para responder a uma questão importante do nosso tempo: o que a história da contrarrevolução, e do 25 de Novembro em particular, nos ensina hoje; como nos ajuda a compreender a derrota dos partidos de esquerda, a ascensão da extrema-direita e os sintomas de barbárie, de que o genocídio atualmente transmitido em direto de Gaza é a mais irrefutável manifestação.
Como todos os livros de história, este livro deseja contribuir para responder a uma questão do presente.Como transformar a realidade, como caminhar para uma humanidade assente na liberdade, igualdade e solidariedade — significado primordial do socialismo, da eliminação da separação entre produtores e meios de produção, entre exploradores e explorados, entre trabalho e capital — que estiveram em projeto e ação na inacabada Revolução dos Cravos?
A foto de capa deste livro captura um momento raro.Soldados paraquedistas de Tancos choram, derrotados.

O que tinha ficado para trás? 

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