Por Ricardo Jorge Neto
OPINIÃO
Conta-se que antigamente o leopardo e o fogo eram amigos. O leopardo, tal como hoje, vivia na selva, e o fogo vivia numa caverna distante. O leopardo, sempre que queria visitar o seu amigo, percorria um longo caminho até à caverna.
Certo dia, cansado de ser visitante, o leopardo pediu ao fogo que saísse da caverna e o fosse visitar à selva. Mas o fogo disse-lhe:
- É melhor, eu ficar por aqui… se sair posso ser muito perigoso!
Mas o leopardo insistiu tanto que o fogo por fim aceitou, com uma condição:o leopardo teria de limpar bem o caminho…
Contudo o leopardo, ao contrário dos turcos, era muito preguiçoso, e não limpou convenientemente o caminho.
Assim, quando o fogo saiu, incendiou as folhas secas, e tudo começou a arder em redor, e com o auxílio do vento, as chamas alcançaram a copa das árvores.
O leopardo, vendo tudo em chamas, ficou aterrorizado e desatou a correr, mas não saiu sem queimadelas.
E, e desde esse dia, os leopardos têm o corpo cheio de pintas…
Em Portugal, aconteceu algo semelhante, com a diferença de ter sido o fogo, na forma de ódio e intolerância, que pediu para sair da caverna, onde fora colocado há 50 anos atrás.
Em 2019, os tribunais deram autorização para que o ‘fogo’ saísse da caverna. E tal como na história do leopardo, também fomos preguiçosos, e deixamos muitas folhas secas, para que o fogo pudesse alastrar!
Cinco anos depois, o fogo, que apenas queimava nas caixas de comentários das redes sociais, propagou-se para as ruas, impulsionado pelos ventos da intolerância vindos da ala mais à direita da Assembleia!
O fogo racista, xenófobo e intolerante alastra, enquanto a liberdade e paz são consumidas!
Numa tarde, uma criança nepalesa é agredida e mandada para o seu país! Depois, numa noite, pessoas são impedidas e insultadas numa sessão de esclarecimento sobre igualdade de género. E pela madrugada, imigrantes são agredidos em suas casas, enquanto dormiam…
Este fogo continua, a próxima vítima foi o Presidente da República, que queriam ver preso por ter expressado uma opinião precipitada num jantar, um local bem mais sério que o Parlamento, onde se pode insultar povos, raças e etnias, enquanto se passa o tempo no Tik Tok e no X, depois de mais um vencimento de deputado cair na conta, sem nada se fazer de útil para o país…
Porque, afinal, tal como o fogo, a única função da extrema-direita é queimar!
Gazeta de Paços de Ferreira
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