Nunca umas eleições do líder de um partido tão relevante para o futuro coletivo do país e para a manutenção do regime democrático foram tão ignoradas pelos media, militantes e população em geral.
As eleições diretas para o líder do PSD têm lugar depois de amanhã, com raras referências na semana que as precede e com alheamento pela escolha do novo líder.
Sabem os interessados na política que há dois candidatos, e que, por menos inspiradores que sejam, um deles protagonizará a oposição ao Governo e terá de evitar a sombra do inquilino de Belém, que ocupa indevidamente o espaço onde trai as funções para que foi eleito e a neutralidade que o cargo exige.
São ainda menos os que sabem que nenhum dos candidatos é deputado o que dificulta a sua afirmação mediática e o escrutínio das qualidades.
Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva são os que se perfilam para a substituição de Rui Rio enquanto Marcelo procura que Carlos Moedas cresça na Câmara de Lisboa para substituir o que ora sair vencedor.
Surpreendentemente, até por razões de promoção do PSD junto do eleitorado e do País, Luís Montenegro nega-se a discutir o programa, se acaso o tem, com o seu competidor.
Desde a escolha da data, 28 de maio, que remete para o início da mais longa ditadura da Europa, no século passado, até ao silêncio que paira sobre o ato, tudo é preocupante. Se a ausência do CDS na AR faz falta à democracia e deixou espaço a partidos extremistas, é de imaginar o que acontecerá se o PSD for definhando e seguir igual caminho.
Há quem se alegre com o desaparecimento do CDS da AR e não veja qualquer diferença entre Nuno Melo e o líder do partido fascista, mas só por miopia não vê que um partido integrado no PPE é condicionado a respeitar os direitos humanos e regras democráticas. Nem todos os líderes do PSD, mesmo alguns dos que governaram, tinham grande amor à democracia, e esta nunca correu perigo. A União Europeia foi o guarda-chuva.
O PSD exerceu a liderança da direita durante todo o período democrático. Não constitui apenas um pilar fundamental da democracia, arrisca deixar para populistas o espaço que está a perder.
O entusiasmo dos congressos reduziu-se quando a eleição do líder passou a ter lugar em eleições diretas, desvanecendo-se a emoção da surpresa. O modelo atual ainda divide os militantes e preocupa os dirigentes, mas o espetáculo galvanizador de alguns congressos históricos perdeu-se definitivamente.
A decadência do PSD é uma evidência nefasta para a democracia, e o partido trocou, na AR, as ideias por intrigas, o programa por ruído e a coerência por opções contraditórias.
Com a desmoralização que se nota, com que energia chegará o PSD ao 40.º Congresso, que se realizará cinco semanas depois das eleições diretas, nos dias 1, 2 e 3 de julho, no Coliseu do Porto, sem entusiasmo dos militantes com qualquer dos candidatos?
Não é o futuro do PSD que interessa, é o do regime e do País onde a direita democrática é fundamental para a qualidade e perpetuação da democracia e onde não há alternativas ao PSD.
Carlos Esperança
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