(Raquel Varela, in Facebook, 04/06/2025, Revisão da Estátua)

(Antes de mais, o seu a seu dono: o título deste artigo foi tomado de empréstimo pela Estátua ao habitual comentador das publicações do nosso blog, Whale Project, até porque o texto original não tinha qualquer título e considerei que o que escolhi assenta que nem uma luva…
Assim, esta publicação acaba por ter o concurso de mais que um autor, além da Raquel Varela, como decorre deste intróito e de uma das imagens que acompanha o texto, que é do Alfredo Barroso.
Estátua de Sal, 05/06/2025)
Figura central da direita – Álvaro Santos Pereira – avançou ontem com a necessidade de rever a Constituição para “poder haver despedimentos individuais”, sem justa causa. Porque, diz ele e a UE – leia-se banqueiros e corporações automóvel e militar -, Portugal tem défice. Por volta das 21 horas, é ouvirem. O que está mal? 47% de pobres? Salários miseráveis? Habitação para ricos? Não! O que está mal, diz este cavalheiro do PSD, é que não se podem despedir todos.

Nunca votei PS na vida, nunca tive ilusões. Mas, quem desta vez votou no Partido fascista Chega, na IL e no PSD agora tem duas coisas a fazer: ou sai para a rua a lutar, ou espera que lhe chegue a casa, a si ou aos filhos e netos, uma cartinha a dizer “despedido” porque “me apetece”, o país precisa de si no olho da rua para combater o “défice” ou seja, remunerar capitais privados através da dívida pública. De caminho vendem, na Banca, a casa que acabaram de perder por serem despedidos – é o “mercado” a funcionar diz o partido fascista Chega, a IL, o PSD e o PS. E, claro, investir em armas “que vêm lá os russos”, diz o Almirante, que quer rever a Constituição, para dar mais poderes a si próprio.
Não acho que a Constituição é o grande centro estratégico da esquerda – para mim é um erro, porque essa linha política não dialoga com milhões de trabalhadores em Portugal que não compreendem o que quer dizer “defender a Constituição”, já que podem ser despedidos a qualquer hora, ou nunca tiveram um contrato digno. E tanta gente de esquerda, que vive no Príncipe Real, e que foi contra greves no tempo da Geringonça, esqueceu-se deles. Mas, o que este Governo, da AD quer – apoiado pelo PS, Chega e IL -, é acabar com os poucos que tinham esse direito, atingir sobretudo transportes, logística, operários fabris e funcionários públicos. Não é por acaso a campanha da AD foi contra a greve na CP.
A luta não pode ser só contra a mudança da Constituição, que para muitos é uma letra morta, nada protege, não os vai mobilizar. Queremos muito mais do que a Constituição, queremos Abril.
O truque é este – não são 50 anos de regime a desmoronar, são 48 anos de regime liberal a desmoronar, e 2 de Revolução de Abril, que foram os melhores anos da nossa vida, mesmo de quem como eu não era nascido. São – exatamente – 48 anos de ditadura, 2 anos de revolução com direitos, e 48 de democracia liberal, cujo texto é a Constituição.
Mas, a Constituição é um texto, o contexto só pode ser de luta, para todos, ninguém fica para trás, sob pena da esquerda ficar a falar sozinha. Todos no país que trabalham ou têm pequenos negócios têm que sair à rua, não só pelo que está bem na Constituição, mas por muito mais: por direitos para todos, incluindo para os pagos a recibos verdes, pequenos empresários, pequenos agricultores, e todos os trabalhadores. Atacar de frente o escândalo das taxas que pagam os pequenos empresários, os impostos altíssimos, a ignomínia dos salários baixos, os horários de trabalho que impedem estar com a família e o ócio. E impedir que o Estado saque dinheiro da Segurança Social, com layoffs escandalosos, e proibir quem não é residente permanente (individual ou empresa) de comprar casas. Esse deve ser o texto do contexto.
Os sindicatos, se querem continuar a existir (a base do que deles resta são estes trabalhadores protegidos), vão ter que lutar na batalha da sua vida – a qual vai ter que ser claramente política e não deve haver medo de a considerar política. Política de enfrentamento com o Governo e com todos os partidos que o apoiam – de frente ou às escondidas e com mais ou menos gritos. Ser apartidário é correto, ser apolítico é um erro que pode ser fatal. Dizer que representam todos é um erro. Os sindicatos só podem representar quem defende direitos.
Epara terminar um vídeo em que autora desenvolve o enquadramento histórico-económico que, no seu entender, conduziu à situação política atual.
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