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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Circula por aí:

Um texto amargo, ressentido e cego de ódio contra os generais Carlos Branco e Agostinho Costa assinado por um oficial na reserva. Expressão cabal de entorse daquela camaradagem que se funde com a ética militar - os militares não fazem intriga, nem insultam publicamente os seus camaradas de armas - procura enquadrar o argumentário no plano das supostas convicções políticas de Carlos Branco e Agostinho Costa, deixando ainda pressupor que o percurso juvenil de ambos estaria neste momento a caucionar um escuso alinhamento com Moscovo. O signatário tem toda a liberdade para garatujar tais insultos, se bem que no recesso da sua alma saiba que aquele ódio é resultado de uma imensa mácula profissional e não de quaisquer desavenças políticas. O signatário terá sido há décadas responsável por um fracassado exercício que envolveu a morte de recrutas e levou à extinção, em 1993, do então Regimento de Comandos. Não pondo em causa a qualidade e a folha de serviços do dito militar, é feio, muito pouco ético e escusado que as pessoas se refugiem em ataques supostamente políticos a camaradas para se limparem de falhas profissionais. Importa, por fim, lembrar que no processo instruído em sede de justiça militar, um dos generais agora visado, ter por todos os meios tentado defender o seu camarada, agora agressor da reputação alheia.

Vale a pena ler o texto em causa.
A Praça Vermelha na Rua da Betesga - ou como se passa da Defesa Nacional à defesa do Kremlin. Uma análise genial.
'Quando Moscovo fala em português: dois generais, um guião e muita presunção ou como se passa da Defesa Nacional à defesa do Kremlin mantendo a farda e trocando de gramática.
Em Portugal, país da OTAN por vontade própria e interesse nacional, há fenómenos que desafiam a ciência, a lógica e, em certos casos, a decência. Um deles é a transformação de dois generais reformados em porta-vozes extraoficiais de Vladimir Putin. Sem terem de usar boné com estrela vermelha, sem precisarem de passaporte diplomático e, claro, sem qualquer noção do ridículo.
Refiro-me a Carlos Branco e Agostinho Costa, dois nomes que, em vez de fazerem soar sirenes de alarme, fazem soar o hino russo em surdina cada vez que aparecem num ecrã a debitar a voz do dono. Reformados das fileiras militares, mas hiperactivos na infantaria mediática, estes generais substituíram o serviço à Pátria pelo serviço à narrativa russa com a naturalidade de quem muda de canal para ver a “RT” com som original e legendas em português.
Carlos Branco, ex-membro da União dos Estudantes Comunistas, esse viveiro de génios geoestratégicos, é hoje uma presença habitual nas televisões, onde aparece com aquele ar de quem debita o óbvio, a dizer que não foi a Rússia que invadiu a Ucrânia, mas sim esta e o Ocidente que provocaram a pacífica Rússia e esta coitada, teve de reagir.
Carlos Branco não é só ex-UEC. Foi também presença assídua no Valdai Club, o think tank criado por Putin para dar verniz académico ao autoritarismo e ao imperialismo. Estar no Valdai é o equivalente geopolítico a ser figurante num programa da manhã da TV estatal russa — está lá, acena, bate palmas, sorri e diz que está tudo ótimo.
Carlos Branco, extasiado, fala de Putin com a mesma reverência com que membros do PCP falavam de Estaline. A diferença é que estes estão em extinção e e Estaline já está a fazer cera e incapaz de mandar para a morte centenas de milhares de pessoas, ao contrário do Sr., Vladimir.
Agostinho Costa é uma farsa fardada. É também outro tipo de espetáculo: mais expletivo, menos refinado, enfunado de teorias da conspiração que esgravata nos canais russófilos, tem uma oralidade caótica, tartamuda e cheia de hesitações.
Reclama-se “analista”, mas soa mais a quem está a tentar decifrar um sudoku em cirílico antigo. Com voz trémula e raciocínio idem, Costa consegue fazer de cada frase um enigma, não tanto pela complexidade das ideias, mas pela dificuldade de perceber onde começa e acaba o pensamento, ou sequer se é mesmo um pensamento.
Disse, por exemplo, que a Rússia demonstrou “contenção” e se retirou de Kherson e de Kharkiv como “gesto de boa vontade, ideias ainda assim pouco arrojadas se comparadas com aquela célebre frase “os russos já estão em Kiev”, proferida com clarins, foguetes, festejos e gargarejos, 3 ou 4 dias depois de os russos terem invadido o país. Já lá vão mais de 3 anos e o general ainda debita delírios equivalentes no mesmo canal o que diz bastante do canal e nada de particularmente edificante.
Enfim, o general Costa fala como se estivesse sempre à beira de revelar algo importante, mas acaba sempre por tropeçar tanto na realidade, como em frases que parecem ter sido escritas por um algoritmo russo com dislexia.
O mais fascinante, e também o mais triste, é isto: conseguem ambos dizer que a Ucrânia “sabia ao que ia”, que a NATO “provocou” e que Putin “só reage”, com o ar de quem desvenda um segredo do universo e com a solenidade de quem acha que está a salvar-nos do engano.
O mais espantoso é que, em vez de serem tratados como os propagandistas que são, conseguem o espantoso feito de serem apresentados como “vozes neutras”. As televisões convidam-nos, ouvem-nos com respeito reverente, mas raramente os confrontam com a realidade e as contradições. Não se trata de saudável contraditório, mas sim de dar palco a uma encenação.
E é aqui que está o verdadeiro drama: enquanto a Rússia espalha mentiras à escala global, os generais amplificam-na com sotaque nacional e transformaram certos estúdios televisivos em sucursais do Rússia Today. Em vez de Medvedev em pessoa, temos Carlos Branco e Agostinho Costa, vestidos como aqueles bonecos dos ventríloquos usados no circo.
Na verdade, estes generais não são analistas: são as versões modernas dos lusitanos Audax, Ditalcus e Minurus. Não entregam cabeças a Roma, mas entregam a narrativa de Moscovo em Lisboa. Como os portugueses que lutaram do lado castelhano em Aljubarrota, também estes acham que o inimigo dos seus inimigos é um aliado, mesmo que esse aliado nos ameace todos os dias com “consequências sérias”
Os traidores do passado usavam armas. Estes generais usam slogans da propaganda russa, directamente saída do neurónio chanfrado de Medvedev.
Se Joseph Goebbels tivesse tido um programa na CNN talvez se parecesse com algo assim. Mas até ele perceberia que quando o mensageiro se torna mais ridículo que a própria mensagem, a propaganda já nem precisa de esforço.
E também por isso, a SIC e a CNN Portugal já deviam ter percebido que colar cartazes com brocha colaboracionista em directo e em horário nobre, não é “análise imparcial”, não é “contraditório”, não é “informação”, é simplesmente deplorável.'

José António Rodrigues do Carmo, Ten-Coronel Comando 

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