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domingo, 13 de abril de 2025

Morreu Carlos Matos Gomes, capitão de Abril:

(Rui Miguel Godinho, in Diário de Notícias, 13/04/2025, Introdução da Estátua)

(O dia de hoje abriu com esta triste notícia – o óbito de Carlos Matos Gomes. Era uma das vozes mais argutas, a refletir no espaço público sobre a complexidade da atual situação geopolítica mundial, com uma erudita profundidade que aliava a arte da guerra à política, à economia e à História. Publicávamos todos os textos que, nos últimos tempos, ele ia dando à estampa na sua página do Facebook e na plataforma Medium. O último que publicámos – ainda não fez um mês, em 21-03-2025 -, pode ser lido aqui, e publicámos dezenas, que não centenas dessas prosas.

O exército daqueles que combatem pela liberdade, pela justiça e por um mundo menos inclemente com o desespero dos deserdados, perdeu hoje um dos seus mais lídimos combatentes. Resta-nos a sua memória, os seus livros, os seus textos, as suas ideias. Que descanse em paz.

Estátua de Sal, 13/04/2025)

Morreu este domingo, aos 78 anos, Carlos Matos Gomes, Capitão de Abril.

A notícia foi avançada pela família do coronel, numa publicação no Facebook, onde se lê que o coronel na reforma morreu no hospital CUF Tejo, em Lisboa. “Partiu sereno e com músicas de Abril”, acrescenta o breve texto.

Ao DN, fonte familiar confirma a morte do Capitão de Abril, acrescentando que estava doente, tendo apanhado, “nos últimos dias, uma pneumonia” que acabou por lhe ser fatal.

Numa nota publicada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa deixou as condolências à família, recordando a “vida de intervenção cívica e pedagógica muito diversificada e intensa, sempre na defesa dos valores porque se batera há mais de cinco décadas”.

Romantista de sucesso com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz, Carlos Matos Gomes publicou há um ano, em nome próprio, o livro Geração D. Nessa altura, deu uma entrevista ao DN, onde rejeitava a ideia de Ramalho Eanes e Mário Soares serem fundadores da democracia. “Nenhum deles é fundador de democracia nenhuma. A democracia é um processo que, aqui em Portugal, vai percorrendo várias etapas até chegar àquilo que é o modelo da democracia liberal, que existe na Europa apenas a partir da Segunda Guerra Mundial. Nós estamos hoje a falar de democracia, mas nunca vivemos numa democracia tão alargada quanto a que existiu desde o 25 de Abril até ao 25 de Novembro. Aquilo que vai limitar e enquadrar e meter em redil partidário a democracia é o 25 de Novembro”, afirmou nessa entrevista.

Nascido a 24 de julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha, Carlos Matos Gomes estudou no Colégio Nun’Álvares, em Tomar, onde conheceu Salgueiro Maia, um dos principais rostos da Revolução. Eram amigos desde os 11 anos. Na entrevista que deu ao DN há um ano – ver aqui – o coronel relembrava Salgueiro Maia como “um homem desligado”, que não quis ser “nenhuma das prebendas que se podiam oferecer”, fosse como membro do Conselho da Revolução ou de “variadíssimos organismos”. “Era um comandante de altíssima categoria”, recordou nessa altura.

Durante a guerra colonial combateu nas três frentes (Angola, Guiné e Moçambique), ganhando depois duas Cruzes de Guerra, a terceira mais alta condecoração militar portuguesa.

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