Imaginemos que existem dois tipos de escola. Numa, o seu dinheiro vem dos impostos. Na outra, o seu dinheiro vem dos proprietários e do mercado. Só uma delas, portanto, tem um modelo de negócio. Nesse contexto, precisa de preencher o máximo de vagas que conseguir, tanto para ser sustentável como para dar lucro. A forma mais rápida, mais fácil e mais barata para isso acontecer é a promessa, a publicidade calada, de dar boas notas. Encarregados de educação e alunos procuram isso mesmo, boas notas. Assim, o acesso a essas boas notas passa a ser uma questão financeira, principalmente. E com isso — o nível económico e recursos familiares e sociais dos que podem pagar — vem uma objectiva vantagem que antecede a entrada na escola. E que depois continua a gerar vantagens por comparação com alunos doutro nível económico e sem esses recursos familiares e sociais dos que podem comprar boas notas. A desigualdade aumenta e legitima-se, passa no exame e ascende às posições superiores no mercado de trabalho e na fruição do estatuto privilegiado. Enquanto isso, na escola paga pelos impostos, podem ocorrer milagres. Como o de levar um aluno a não desistir de acabar a escolaridade obrigatória, ou outro a ganhar confiança para entrar na universidade mesmo que com uma média modesta ou apenas suficiente. Ou o milagre de transformar um aluno mau num aluno sofrível. O milagre de ajudar o adolescente perdido a tomar consciência de que poderá vir a ser o adulto autónomo.
Para esses milagres não há “rankings”. E ainda bem, esse anglicismo horroroso deve continuar lá longe, nas escolas das “boas notas”. Sem contaminar as escolas dos milagres secretos.
6 Abril 2025 às 9:25 por Valupi
Do blogue Aspirina B
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