Em 2005 prometi fazer das energias renováveis uma prioridade e aí começou uma revolução que ainda hoje perdura. Nesse ano apresentei ao país o plano tecnológico e no final da legislatura o país já tinha uma balança tecnológica com saldo positivo. Fechámos as escolas primárias com menos de dez alunos, fizemos a escola tempo inteiro, criamos o programa Magalhães e construímos, com as Câmaras Municipais, os primeiros centros educativos. Criamos as Novas Oportunidades e lançamos a empresa Parque Escolar com um ambicioso plano de requalificação das escolas secundárias. O meu governo criou o programa Simplex de combate a burocracia e foi no meu governo que surgiram as primeiras lojas do cidadão.
Prometi fazer o complemento solidário para os idosos e ele criado por uma lei de dezembro de 2005. Foi o meu governo que criou as unidades de cuidados continuados, inseridas numa reforma do serviço nacional de saúde que deu prioridade à população mais idosa. Foi também o meu governo que criou as primeiras unidades de saúde familiar. Esse governo fez a reforma da segurança social, uniformizando os vários sistemas de reforma e criando na lei o fator de sustentabilidade, que fez gradualmente evoluir a idade legal de reforma em função da esperança de vida. Foi essa reforma que defendeu a segurança social pública, que a manteve forte, pública e sustentável. O meu governo também fez o maior aumento da percentagem de investimento público em ciência dando cumprimento à promessa de investimento no conhecimento. Acabei o Alqueva, fiz a autoestrada para Bragança e o IC5 em Trás-os-Montes. Adjudiquei o TGV que o governo seguinte cancelou. Fiz a avaliação estratégica e a avaliação ambiental do novo aeroporto, que foi irresponsavelmente adiado pelo governo que me sucedeu. Nos dois primeiros anos (2005 a 2007) o governo tirou o país da situação de deficit excessivo e nesse mesmo período alcançamos o maior crescimento económico verificado nesses anos difíceis (2007). Nessa legislatura ainda tivemos tempo para concluir o Tratado de Lisboa, ganhar o referendo sobre a descriminalização do aborto e ganhar as eleições de 2009, já no meio da maior crise económica mundial. Ah, e ainda: nessas eleições prometi uma nova lei de casamento entre pessoas do mesmo sexo, promessa essa que viria a ser cumprida na legislatura seguinte. Quanto a promessas eleitorais eis o que instantaneamente me ocorre no momento em que escrevo, sob reserva de melhor balanço político.
Finalmente, não me quero comportar como os demais e deixar sem resposta o embuste histórico sobre a vinda da Troika. Portugal viu-se forçado a pedir ajuda externa não por causa de nenhuma política despesista do governo, mas por causa da crise política provocada pelo chumbo parlamentar do PEC IV. Esse PEC IV foi um acordo internacional negociado com o Conselho, a Comissão e o Banco Central Europeu e foi reprovado no Parlamento pelo voto conjugado da oposição de esquerda e de direita. Pela primeira vez na história democrática a Assembleia da República pôs em causa uma negociação internacional feita por um governo legitimo e no quadro da União Europeia. Para os dirigentes do PSD da altura a vinda do FMI seria boa para Portugal e nunca fizeram disso segredo nenhum, pelo contrário, o seu líder afirmou-o numa célebre entrevista ao expresso. Esta é a verdade dos factos. Que não deixa de ser verdade pelo facto de ser dita, corajosamente, por poucos.
José Sócrates
Ericeira, 7 de abril de 2025
Na CNN
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