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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

A cruzada do bem:

27 de Fevereiro de 2022, há pouco menos de três anos. Se alguns nem sabiam situar a Ucrânia no mapa; outros, se das direitas, agiam por atávido reflexo condicionado e pensavam convictamente que a Rússia era «o comunismo», enquanto outros, se das esquerdas, afirmavam serem os russos «nazis».

Havia, ainda, os impressionáveis, aqueles que sem manifestar qualquer interesse em perceber o que ali acontecia há muito, lançavam mão ao discurso primitivo do anti-russismo desmazelado, pensando que bastava encadear um colar de adjectivos vazios e chorosos para adubar o fogo cego dos desabafos raivosos. Todos, sem excepção, tanto os das direitas, como os das esquerdas, ou ainda os despolitizados, há muito que haviam aderido acriticamente ao preconceito da superioridade da «nossa maneira de viver», muito embora, tanto uns como outros se odeiem profundamente e tenham um entendimento conflituante a respeito dessa «maneira de viver». Deu-se uma verdadeira Santa Aliança em que a invocação dos pastorinhos de Fátima e as procissões se faziam tendo como parceiros os ateus do República e Laicidade. Um verdadeiro milagre.

Verificou-se, ainda, um fenómeno há mais de cem anos apontado por Le Bon: o surgimento dos camaleões que se queriam furtar às acusações dos extremistas de signo oposto e, assim, faziam o banho lustral de bondade. Partidários do Chega, do eterno envergonhado CDS, do PSD, do PS, do Bloco e do Livre irmanaram-se ombro a ombro com a bandeira que passara a ser o pendão comum azul-amarelo da forquilha invertida. Os esquerdistas ali metidos não perceberam que glorificavam uma etnocracia "nacionalista" que por cá tanto abominam, ou um regime vassalo dos EUA e da NATO, enquanto os direitistas aplaudiam e exultavam com a cruzada contra o regime russo que é o contrário do "woke" que insuportavelmente lhes enche a boca de manhã à noite.
Obviamente, todos se portaram inqualificavelmente mal e conseguiram a proeza de coleccionar todas as fraquezas possíveis de apontar aos homens [e às mulheres]: fraqueza intelectual, ignorância, caça ao inimigo inexistente, agressividade, arrogância, preconceito, irresponsabilidade, intolerância, imaturidade e, pois, oportunismo. Terão de beber a tisana depuradora antes de poderem voltar a falar.

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