Rádio Freamunde

https://radiofreamunde.pt/

domingo, 23 de fevereiro de 2025

23 de fevereiro de 1981 — Madrid:

As democracias já não morrem assim, com um ridículo guarda civil de pistola em punho no Parlamento.
Há quarenta e um anos ocorreu em Espanha uma tentativa de golpe de estado para reportar o regime de privilégios da elite espanhola que se assenhoreara de Espanha após a guerra civil, sob o comando de Franco. O golpe teve por objetivo inverter o processo político que conduziria a Espanha a um regime político compatível com os instaurados na Europa após a Segunda Guerra.
O extrato do artigo do El País, de José Maria Barreda, de 21 de fevereiro de 2025, a propósito do golpe de 27 de fevereiro de 1981, de que me socorro, afirma que o ataque de 23-F foi tão grave e evidente — Tejero de pistola no Congresso, tanques nas ruas de Valencia, que os políticos e os cidadãos sentiram uma clara percepção de que o golpe de Estado proposto acabou com uma incipiente democracia espanhola e veio para a rua defendê-la.

Hoje vemos esses dados longínqua como sendo de reprodução genética. Conhecemos o essencial da anatomia naquele instante, mas devemos refletir sobre o propósito de como se desenvolvem agora os ataques à democracia porque estamos nos habituando a eles. Podemos aplicar a fábula da rã e da água a ferver. Ará salta imediatamente se a deitarmos em água a ferver, mas se ela se encontra anteriormente dentro da panela e a água vai esquentando lentamente, a rã aquecer-se-á tranquila até que, imperceptivelmente morre cozido. O ensino da fábula consiste em alertar para o perigo de aguentar situações limite durante tempo.
Em «Como morrem as democracias», dois pesquisadores de Harvard escrevem: «Sabemos que as democracias já não terminam com um golpe militar ou uma revolução, mas sim com um leve queixume, um lento e progressivo enfraquecimento das instituições essenciais, como o sistema jurídico, a imprensa, o parlamento, os partidos políticos…»
Hoje (como vimos no parlamento português) a democracia agride-se dentro dela, é utilizada para desprestigiar. Os autores ex apresentaram sua tese em 2018, antecipando-se aos acontecimentos nos Estados Unidos com a eleição de Trump e com o crescimento exponencial dos movimentos nazistas na Europa.
Perante o “novo mundo” da digitalização e das redes, a maioria dos cidadãos continua prisioneira de outra época, presa a uma concepção do mundo, incapaz de oferecer respostas intelectuais e materiais aos novos problemas.

Um dos sintomas atuais “sintomas mórbidos” que afetaram a democracia liberal e o que se entende pela social-democracia, são as ideias reacionárias segundo as quais seriam possíveis e prejudicam a liberdade sem democracia. (Esta é a tese dos necons).
Para os neoliberais, a democracia, a lei, é um estorvo à sua interpretação do laissez faire, laissez passer e reivindicar sem ambiguidades que a liberdade tem democracia a mais. Esta afirmação é cada vez mais difundida e observamos como ideias políticas que eram tabu, completamente inaceitáveis ​​podem acabar como assumidas e aceitáveis. As plataformas digitais, as redes sociais, controladas pelos grandes magnatas aliados de Donald Trump, realizam o seu trabalho de modo a conseguir que sejam ideias aceitáveis ​​e propostas inconcebíveis até um pouco e a destruição do Estado de Direito.
O populismo é uma «aluminose» da democracia. Aluminose, ou febre do formigueiro, é uma manipulação que se manifesta especialmente em vigas de edifícios que perdem as suas propriedades perdendo resistência, colocando em perigo a estabilidade do edifício.
O populismo debilita as instituições e corrói o sistema democrático. Combatê-lo implica cumprir algumas normas básicas: respeitar as regras da democracia e deixar claro que nenhuma eleição deve ser a última, respeitar os direitos dos adversários e ser inflexível com a liberdade dos meios de comunicação. E este último ponto — garantir a liberdade e a responsabilidade dos meios de comunicação — deve constituir a linha principal de defesa da democracia. As democracias não caem às mãos de ridículos guardas civis de chapéu de lata na cabeça ou até de generais de capacete e óculos escuros, mas às mãos de manipuladores de informação óssea de base como Musk.
Carlos Matos Gomes

Sem comentários:

Enviar um comentário