As democracias já não morrem assim, com um ridículo guarda civil de pistola
em punho no Parlamento.
Há quarenta
e um anos ocorreu em Espanha uma tentativa de golpe de estado para reportar o
regime de privilégios da elite espanhola que se assenhoreara de Espanha após a
guerra civil, sob o comando de Franco. O golpe teve por objetivo inverter o
processo político que conduziria a Espanha a um regime político compatível com
os instaurados na Europa após a Segunda Guerra.
O extrato
do artigo do El País, de José Maria Barreda, de 21 de fevereiro de 2025, a
propósito do golpe de 27 de fevereiro de 1981, de que me socorro, afirma que o
ataque de 23-F foi tão grave e evidente — Tejero de pistola no Congresso,
tanques nas ruas de Valencia, que os políticos e os cidadãos sentiram uma clara
percepção de que o golpe de Estado proposto acabou com uma incipiente
democracia espanhola e veio para a rua defendê-la.
Hoje vemos
esses dados longínqua como sendo de reprodução genética. Conhecemos o essencial
da anatomia naquele instante, mas devemos refletir sobre o propósito de como se
desenvolvem agora os ataques à democracia porque estamos nos habituando a eles.
Podemos aplicar a fábula da rã e da água a ferver. Ará salta imediatamente se a
deitarmos em água a ferver, mas se ela se encontra anteriormente dentro da
panela e a água vai esquentando lentamente, a rã aquecer-se-á tranquila até
que, imperceptivelmente morre cozido. O ensino da fábula consiste em alertar
para o perigo de aguentar situações limite durante tempo.
Em «Como
morrem as democracias», dois pesquisadores de Harvard escrevem: «Sabemos que as
democracias já não terminam com um golpe militar ou uma revolução, mas sim com
um leve queixume, um lento e progressivo enfraquecimento das instituições
essenciais, como o sistema jurídico, a imprensa, o parlamento, os partidos
políticos…»
Hoje (como
vimos no parlamento português) a democracia agride-se dentro dela, é utilizada
para desprestigiar. Os autores ex apresentaram sua tese em 2018, antecipando-se
aos acontecimentos nos Estados Unidos com a eleição de Trump e com o
crescimento exponencial dos movimentos nazistas na Europa.
Perante o
“novo mundo” da digitalização e das redes, a maioria dos cidadãos continua
prisioneira de outra época, presa a uma concepção do mundo, incapaz de oferecer
respostas intelectuais e materiais aos novos problemas.
Um dos
sintomas atuais “sintomas mórbidos” que afetaram a democracia liberal e o que
se entende pela social-democracia, são as ideias reacionárias segundo as quais
seriam possíveis e prejudicam a liberdade sem democracia. (Esta é a tese dos
necons).
Para os
neoliberais, a democracia, a lei, é um estorvo à sua interpretação do laissez
faire, laissez passer e reivindicar sem ambiguidades que a liberdade tem
democracia a mais. Esta afirmação é cada vez mais difundida e observamos como
ideias políticas que eram tabu, completamente inaceitáveis podem acabar como assumidas e
aceitáveis. As plataformas digitais, as redes sociais, controladas pelos grandes
magnatas aliados de Donald Trump, realizam o seu trabalho de modo a conseguir
que sejam ideias aceitáveis e propostas
inconcebíveis até um pouco e a destruição do Estado de Direito.
O populismo
é uma «aluminose» da democracia. Aluminose, ou febre do formigueiro, é
uma manipulação que se manifesta especialmente em vigas de edifícios que
perdem as suas propriedades perdendo resistência, colocando em perigo a
estabilidade do edifício.
O populismo
debilita as instituições e corrói o sistema democrático. Combatê-lo implica
cumprir algumas normas básicas: respeitar as regras da democracia e deixar
claro que nenhuma eleição deve ser a última, respeitar os direitos dos
adversários e ser inflexível com a liberdade dos meios de comunicação. E este
último ponto — garantir a liberdade e a responsabilidade dos meios de
comunicação — deve constituir a linha principal de defesa da democracia. As
democracias não caem às mãos de ridículos guardas civis de chapéu de lata na
cabeça ou até de generais de capacete e óculos escuros, mas às mãos de
manipuladores de informação óssea de base como Musk.
Artigo
completo do El País: https://elpais.com/opinion/2025-02-21/la-propuesta-de-libertad-sin-democracia.html
Carlos
Matos Gomes
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