Miguel Arruda alcançou o feito homérico de ser um refrigério humorístico à escala internacional numa semana de trumpatologia aguda. Devia haver um qualquer prémio para a façanha ou organizar-se um peditório nacional para o recompensar. Não o teria conseguido se tivesse cometido crimes que manifestassem alguma capacidade de causar danos graves a alguém, como fazer assaltos violentos ou ameaçar a integridade física de terceiros. Foi ao contrário. Os crimes, se esquecermos o grande incómodo material e psicológico das vítimas, tiveram como alvo principal o destino público da sua pessoa, de agora em diante um saco de encher de piadas. Para sempre. Isto porque em cima dos furtos picarescos teve engenho e arte para dar explicações ainda mais burlescas. O resultado levou a sua figura para uma dimensão de ridículo que a razão já não acompanha. E isso leva a reconhecer que só estando fatalmente diminuído no plano cognitivo teria ignorado as evidentes e inevitáveis consequências dos seus actos — os do aeroporto e aqueles que nos ofereceu depois de ter sido apanhado pelas autoridades. Miguel Arruda, como pessoa doente, merece compaixão e precisa de ajuda.
As bocas no Parlamento sobre o caso foram uma forma de violência contra si que, em simultâneo, nasciam da motivação para atingir o Chega e Ventura no desopilanço sarcástico. Tudo normal e automático. Já a violência de Pedro Pinto, líder da bancada do Chega, que ostensivamente aludiu a possíveis agressões físicas contra ele vindas dos deputados do partido, é de outra natureza, e explica o percurso de Miguel Arruda. Uma pessoa tão imbecil como este homem da mala pode ter um discurso fascistóide articulado, funcional. Ameaçar de porrada quem nos envergonha para o levar a fugir igualmente não carece de significativo gasto neuronal. É precisamente por Ventura e falange terem vindo a normalizar a semiótica da violência política no campo das ameaças físicas que importa não exercer violência psicológica contra o taralhouco açoriano. Nem contra ninguém do Chega. Combater Ventura passa, essencialmente, por explicar Ventura.
26 Janeiro 2025 às 9:15 por Valupi
Do blogue Aspirina B
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