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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Os vigaristas dos 3% para a NATO:

(Carlos Matos Gomes, in Facebook, 16/12/2024, revisão da Estátua)




Há uns tempos apareceu na comunicação social o anúncio vindo dos estados Unidos que os países da NATO tinham de contribuir com 3% dos orçamentos para as despesas militares. Era o devido. Com 3% os países europeus podiam vencer a Rússia e o mais que viesse.

Ninguém, nem entre especialistas de comentário, de opinião, de invenção, de comentário e de opinião perguntou pelo racional dos 3%. Três por cento porquê? E porque não treze, ou trinta, ou qualquer outro valor? Estamos perante uma – mais uma – mistificação que os dirigentes nos querem meter pela goela como se se fôssemos gansos destinados a produzir fois gras.

Se um mestre-de-obras nos dissesse que precisávamos de gastar 3% do nosso orçamento na remodelação da nossa casa, a primeira pergunta que faríamos seria: e com esse dinheiro faço o quê? Melhoro o quê?

Acresce que não vivemos todos na mesma casa. 3% do orçamento da Alemanha é capaz de dar para comprar uma frota de F35 e um porta-aviões, mais dois submarinos e um satélite.  3% do orçamento português deve  dar para comprar um barco patrulha Mondego e promover uma meia dúzia de generais e almirantes.

Nenhum secretário da NATO, nem nenhum ministro da Defesa explicou a razão dos 3%. E mais. Nenhum secretário da NATO, nem nenhum ministro da defesa de qualquer país da NATO (nos outros é idêntico) é capaz de explicar o custo de um qualquer sistema de armas. Nenhum é capaz de estabelecer o custo de produção de um avião, de um helicóptero, de um navio, de um carro de combate. Nenhum dos políticos que reclamam 3% para compras de armamento é capaz de apresentar a estrutura de custos de um qualquer sistema de armas. Nenhum faz ideia do custo de uma hora de operação de um avião ou de um navio.

Mas é evidente que há um preço que o comprador paga: mas esse preço é fixado pelo vendedor de acordo com os seus interesses em vender e dos benefícios que pode obter: por exemplo, pode obrigar o comprador a adquirir um programa de treino e manutenção – depois vende os sobressalentes ao preço que quer.

A hora de operação de um sistema de armas é calculada por referência a um dado modelo ou equipamento. Do género, a referência base é um C130, que tem um coeficiente 1, um F16 será, p.ex, vezes 2,6. E é assim que os orçamentos se cozinham. Outro modo (americano) é estabelecer um orçamento base incluído no orçamento da Casa Branca depois gasta-se o necessário para operar os meios. Nenhum político saberá, pois, dizer quanto pagou o Estado para Investigação e Desenvolvimento, em direitos de propriedade intelectual, ou em subsídios às universidades.

Em resumo, quando alguém falar em 3% para despesas militares peçam a fatura discriminada, como se faz nos restaurantes. O resto é discurso de vendedores de banha da cobra.

Do blogue Estátua de Sal 

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