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domingo, 29 de dezembro de 2024

Israel é a Santa Inquisição do Ocidente, ou o Ocidente é o braço secular de Israel?

Apanhei com as duas notícias quase em simultâneo. Israel destruiu o hospital Kamal Adwan, o último que ainda funcionava em Gaza. Os médicos e os doentes foram forçados a sair, alguns nus, como se encontravam, em fila indiana, antes do edifício ser incendiado.
No Público um artigo de Alexandra Lucas Coelho, com o título “Israel acabou. O futuro é da Palestina.”
“ Esse horror não seria possível sem as bombas e os milhões dos EUA. Biden é um criminoso de guerra. Como Scholz, Ursula, a maior parte da UE (com três ou quatro países a fazerem a diferença). O mundo que permite que se extermine um povo em nome de Deus, e ainda se considera religioso…”
O genocídio que Israel está a cometer na Palestina coloca a questão de ser a comunidade judaica que determina a política dos Estados Unidos ou se são os Estados Unidos que determinam a política de Israel. No fundo trata-se da mesma velha questão de saber se, enquanto existiu, era a Inquisição que determinava a política dos reinos de Portugal e de Espanha, ou se eram estes reinos, os Estados, que utilizavam a Inquisição como seu instrumento de poder. Israel elimina os palestinianos para impor o seu poder de forma inquestionável, em interesse próprio ou os Estados Unidos utilizavam Israel para imporem o seu poder no Médio Oriente?
A posição estratégica da Palestina no Médio Oriente faz com que o seu controlo constitua um objetivo vital para os Estados Unidos. Esse interesse é assegurado por Israel. A existência de palestinianos, os nativos, constitui um obstáculo para a justificação do direito de controlo absoluto do território por parte dos Estados Unidos. Israel foi criado, entre outras razões, com o argumento do direito dos judeus à posse do território pela ancestralidade bíblica (na realidade idêntica à de todos os povos semitas da região). Israel foi criado, existe e atua com a violência e a crueldade que são impossíveis de ignorar para eliminar os palestinianos, para eliminar os que colocam em causa o poder dos Estados Unidos na região através de Israel.
A Santa Inquisição dispunha de um Manual do Inquisidor que justificava a tortura para obter a confissão e mesmo a conversão dos judeus, que entregava os condenados ao braço secular para execução da sentença de morte, que tanto punia os relapsos, como ajudava os conversos a irem para o Paraíso mais cedo.
A dúvida que se coloca na relação atual entre os Estados Unidos e Israel nesta adaptação do Manual do Inquisidor de eliminação de um povo é a antiga dúvida se era a Inquisição que determinava ao Estado a política de morte dos hereges, ou se era este, o Estado, que utilizava a Inquisição como um instrumento da sua política de poder absoluto. Ou se ambos atuavam em conluio. O direito da Inquisição, que representava a maioria cristã, armada, se defender dos hereges é, curiosamente, o mesmo atualmente invocado do direito à existência de Israel, que está fortemente armado e constitui a maioria reinante.
No século XV em Estanha, era Tomás Torquemada, o Inquisidor mor, insano e fanático, ou Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os reis católicos que governavam a Espanha e a “limpavam” de judeus e muçulmanos, e hoje, é Netanyahou ou o presidente dos Estados Unidos que determina a matança dos palestinianos, o auto de fé de Gaza?

O dramático, hoje, como há quinhentos anos, para quem tiver consciência, será responder à pergunta deixada pela Alexandra Lucas Coelho: - O que fizeram contra isto? - que filhos ou netos farão aos seus pais ou avós, sobre nós. Isto na esperança de os nossos filhos e netos não serem iguais a nós e nós não sermos iguais aos que participavam nos autos de fé em ambiente de festa.

Carlos Matos Gomes 

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