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quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

A Europa em crise: desafios políticos, económicos e geopolíticos:

 (João-MC Gomes, In VK, 03-12-2024)

A vaca começa a definhar e dá cada vez menos leite…

A Europa enfrenta uma fase de instabilidade económica e política, marcada por desafios significativos que afetam a liderança de diversos países. A Alemanha, sob o governo de Olaf Scholz, exemplifica esse cenário. O setor automóvel, pilar da economia alemã, está em crise, com encerramentos de fábricas, despedimentos e greves que refletem o descontentamento dos trabalhadores. Este contexto tem colocado em xeque a capacidade de Scholz em gerir simultaneamente as crises internas e as exigências de uma política externa coerente.

Alemanha: “Fuga para a Frente”?

As recentes ações de Scholz indicam uma tentativa de “fuga para a frente”. A visita a Moscovo para conversações diretas com Vladimir Putin sobre o conflito ucraniano, à margem de comités internacionais, gerou duras críticas de Volodymyr Zelensky. Esta atitude foi interpretada como um afastamento da política de alinhamento estrito com o Ocidente no apoio à Ucrânia. Para amenizar as repercussões, Scholz realizou uma visita a Kiev, reafirmando o compromisso alemão com a Ucrânia e prometendo novas ajudas financeiras, apesar da deterioração económica do seu país.

A mala cinzenta que Scholz carregava pessoalmente em Kiev tornou-se símbolo de especulação, sugerindo a importância estratégica dos documentos ou recursos que transportava. Este episódio reflete a tensão crescente entre a necessidade de gestos simbólicos de apoio à Ucrânia e a realidade de um orçamento doméstico pressionado.

Impactos da Eleição de Trump e a Pressa Europeia

A iminente tomada de posse de Donald Trump como presidente dos EUA em janeiro de 2025 intensificou a pressão sobre os líderes europeus. Muitos temem que o regresso de Trump traga uma política externa americana menos previsível e mais centrada no isolamento, obrigando a Europa a encontrar soluções autónomas para desafios como o conflito na Ucrânia.

Neste contexto, António Costa, Presidente do Conselho Europeu, visitou Kiev numa missão diplomática que simbolizou a necessidade de manter boas relações com a Ucrânia, mas que, aos olhos de muitos, pouco acrescentou além de gestos protocolares. Macron, por sua vez, enfrenta uma possível crise política interna, com a ameaça de dissolução do governo francês, enquanto outros países da UE lidam com eleições que têm demonstrado crescente descontentamento popular com as políticas europeias.

Um Ocidente Dividido e Pressionado

A situação geopolítica também evidencia divisões. A pressão ocidental na Geórgia, por exemplo, revela estratégias que, em vez de estabilizar, ampliam tensões numa região sensível. O desgaste na unidade ocidental e os sinais de que cada dirigente europeu busca salvar a sua posição política apontam para a necessidade urgente de reformular a abordagem coletiva.

A Europa encontra-se num ponto crítico, onde crises económicas e políticas internas se cruzam com pressões externas e incertezas sobre o futuro das relações transatlânticas.

A resposta a estes desafios exigirá coordenação e coragem política, sob pena de aprofundar divisões internas e comprometer a sua relevância global. A tentativa de Scholz e outros líderes em ganhar tempo pode não ser suficiente se não for acompanhada de soluções concretas para as crises que afetam os cidadãos e a estabilidade do continente.

Do blogue Estátua de Sal

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