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terça-feira, 9 de julho de 2024

“Campanha orquestrada”. A entrevista da PGR foi fácil. A sua demissão também devia ser fácil:

Afinal não custou muito à senhora Procuradora-Geral ir à televisão responder a perguntas. Eis o contexto que justificou esta maçada.

Desde 2019 (tomou posse em Outubro de 2018) que não há notícias sobre as actividades da instituição a que preside, apesar do aumento do número de assessores de imprensa de que entendeu rodear-se, conforme fez questão de assinalar no início desta entrevista, sabe-se lá porquê, pois ninguém notou qualquer afã ou empenho comunicacional da parte do Ministério Público nestes seis anos*, pelo contrário. Não há contas prestadas sobre coisa nenhuma. (Esta dos assessores foi uma primeira argolada, que podia ter sido mais explorada.)

O relatório referente a 2023, que, a pedido do Parlamento, vai ser enfim apresentado, não está sequer feito, obrigando a um pedido de adiamento da comparência perante os deputados. Vergonhoso. (Onde estão os outros, pergunto eu.)

O acompanhamento de processos, sobretudo os mais mediáticos e políticos e com consequências graves no funcionamento da democracia, não foi actividade a que a senhora PGR se tenha dedicado por aí além nestes anos, confissão da própria, “dada a extensão e a minúcia” dos mesmos e a “impossibilidade humana” de tudo conhecer. Palavras da própria. (Qual extensão e qual minúcia no caso Influencer?). Já suspeitávamos do alheamento, mas está errado.

Não se vislumbrando, pois, na actividade de Lucília Gago qualquer indício de transparência, competência ou responsabilidade, foi preciso uma inédita queda de governo por via judicial (por outras palavras, um golpe) e que um coro de vozes indignadas se viesse manifestar contra o silêncio da senhora procuradora-geral para finalmente esta se dignar a falar em público. Estão em causa abusos, absurdos e ilegalidades/crimes do Ministério Público. Não é coisa pouca.

E aqui chegámos. À cadeira televisiva. Lucília Gago falou, mas poderia perfeitamente ter continuado calada. Se não compreende o alarido, realmente terá pouco a dizer. E pouco disse. Viu-se que estava melhor sossegada. Como defesa, acusa quem a tirou do sossego de orquestrar uma campanha. Exceptuando umas greves de funcionários judiciais numa altura menos própria, considera que está tudo impecável no Ministério Público, mais uma vez não compreende “o alarido”.

Confirmou, porém, aos nossos olhos, a incompetência, a ignorância, o desconhecimento da vida política e a perversidade do MP de que todos já suspeitávamos. Os processos não se fecham porque pode sempre surgir qualquer coisa. Uma vez suspeito, eternamente suspeito. É o lema deste Ministério Público. E nunca erra. Está apenas e para todo o sempre à espera de um dado novo. O direito das pessoas à liberdade e ao bom nome não colhe para este MP e para os juízes que caucionam os seus abusos.

Um governo cai por suspeitas canhestras do MP e parágrafos ilegais e precipitados, cidadãos são presos dias e dias infindáveis para depois serem soltos sem qualquer acusação grave, ministros são escutados durante anos, numa devassa total da vida privada, para no fim se pescarem dois almoços oferecidos, ordenam-se fugas de informação venenosas programadas para prejudicar alvos políticos em determinadas alturas políticas, mas tudo no MP está perfeito! A leveza com que esta mulher atropela pessoas é inacreditável.

Com esta postura, a entrevista não a fez suar. A roupinha preservou-se. Lucília Gago não esteve sequer sentada numa cadeira, ela pairou. Problemas não existem. Vítimas da incompetência ou da politização dos procuradores, o que é isso? Existe, sim, uma campanha.

Dona Lucília, a senhora está no ar. E, uma vez aí, pode ir mais depressa para casa. Não é que os problemas do MP fiquem resolvidos com isso, porque a incompetência e os vícios são muitos, mas ter à frente do MP alguém com autoridade, isenção e conhecimentos (da lei e da vida) e que dê a cara já não era mau. Porquê esperar três meses?

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*Diz que consultou os assessores para escrever o famoso parágrafo

 POR PENÉLOPE

Do blogue Aspirina B 

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