António Costa é um dos principais culpados do marasmo criado nestas décadas na relação entre a justiça e a política com a imprudente, tese de uma e outra serem independentes uma da outra. Assim deveria ser, mas não era, nem é, e o próprio ex-primeiro-ministro provou agora do veneno de que se julgava imune.
É verdade que as pedras atiradas para esse pântano nos últimos anos nunca beliscaram a suposta autonomia do ministério público, que fez de alguns procuradores os continuadores da Pide, ao servirem-se das escutas como forma de vigilância política ao jeito praticado durante o regime fascista. É perturbador saber que esses procuradores, os juízes que lhes têm dado cobertura e os polícias armados em coscuvilheiros das vidas alheias, não têm sentido o mínimo pudor em comportarem-se como os seus antecessores no Estado Novo.
Só não admira, que André Ventura defenda, com unhas e dentes, esses métodos coincidentes com a natureza fascista das suas ideias.
A questão que se põe é saber se, perante o escândalo público das frases divulgadas na conversa de António Costa com João Galamba, a pedra atirada para o malcheiroso charco, que metaforiza essa relação entre política e justiça foi, finalmente, suficientemente forte para, enfim, ser levada por diante a necessária reforma da justiça de acordo com uma ética republicana de que, lamentavelmente, só Rui Rio se tem feito solitário porta-voz.
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