Judeu rico, membro do Sinédrio, era discipulo secreto de Cristo. Será nessa qualidade que, em, 25 de outubro de 1956, terceiro dia da insurreição de Budapeste, lava os pés no Danúbio? João Baptista, português, europeu, talvez russo, filho de José de Arimateia e de Maria de Jesus, não de Zacarias e Isabel, treinou, em romagens pelo continente, a arte de transtornar regimes. LILIPUTIN, de Ernesto Rodigues é uma distopia europeia.
De Lisboa a Praga e a Bucareste, e de Berlim a Moscovo, a Budapeste e a Kiev, um espectro percorre a Europa. Não o do comunismo, como pretendia Marx, mas o da a guerra. A História resume-se agora à história da guerra. Ou antes, a História é a Guerra. Faltam três semanas para o fim da guerra, isto é, para o fim do mundo, concluem dois personagens desta fábula, realista e radicalmente pessimista. As vitórias são dignas das derrotas. Os corpos dos vencidos são enrolados em sacos de serapilheira e enterrados a monte, juntamente com os animais do Zoo. Quando não se acredita em Deus, disse Eco, tal não significa que não se acredita em nada: acredita-se em tudo. Neste universo mortífero mas liliputiano, está ausente a grandeza. Acredita-se em tudo, mesmo nos ditadores que nascem pobres, sobretudo de inteligência. Discípulos de Putin, são, como ele, Liliputines. Se eu tivesse de escolher uma música de fundo para esta reportagem ficcionada da razão europeia, escolheria Ravel, PAVANA PARA UMA INFANTA DEFUNTA. A título de advertência: para que a infanta defunta não venha a ser a Europa.
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