Quando o chefe de Estado russo anunciou que suspendia a participação do país na execução do acordo nuclear New START, assinado em 2010, que previa cortar para metade as armas nucleares estratégicas russas e norte-americanas, deu mais um passo na caminhada, paulatina e louca, que ele próprio e Joe Biden estão a fazer rumo a um terrível holocausto na Europa.
Putin explicou a medida por os EUA estarem a exigir acesso às bases russas para fiscalizarem o cumprimento desses acordos, mas negarem aos russos um acesso recíproco às bases norte-americanas.
Por outro lado, Putin acusou ainda o governo de Biden de estar a desenvolver secretamente novos tipos de armas nucleares, violando assim os pactos existentes.
Seja mentira, seja verdade, o ponto é este: à medida que a NATO se envolve cada vez mais no conflito na Ucrânia, enviando cada vez mais armas, fechando deliberadamente e ostensivamente todas as portas a um início de diálogo, exigindo a "derrota total da Rússia" e recusando qualquer tipo de compromisso, em vez de melhorar a situação, está a piorá-la.
A mortandade entre russos e ucranianos, as violações cruéis de direitos humanos cometidas pelos dois lados e o impasse militar no terreno sedimentam-se, solidificam-se e fossilizam-se - e, por isso, é cada vez mais difícil sair deste pântano onde todos os países europeus se afundam, enquanto ucranianos e russos morrem e sofrem aos magotes.
Nos Estados Unidos os teóricos da demência já escrevem nos jornais sobre a viabilidade hipotética de deitar abaixo o regime russo, não só para tirar de lá Putin, mas também para acabar de vez, para sempre, com a "ameaça russa". Até se fazem contas à (im)possibilidade de dividir a Rússia em vários estados diferentes, mais pequenos! E aconselham-se estratégias para eliminar a influência que a Rússia mantém sobre a Bielorrússia ou para "libertar" do cerco de Moscovo os governos da Geórgia e da Moldávia - veja-se no último número da revista Foreign Affairs as divagações malucas que alguns dos seus doutos e influentes colunistas fazem sobre o assunto, em longos e circunspectos artigos cuja conclusão, não escrita, só pode ser uma: milhões e milhões de mortos...
... Ah!, e ainda propõem planos para, a seguir, pôr a China na ordem!
Putin apregoa que a luta no Donbass é a luta pela liberdade. Biden clama que a luta no Donbass é a luta pela liberdade. Estão bem um para o outro na hipocrisia.
Putin brada que a guerra na Ucrânia é pela defesa da civilização. Biden berra que a guerra na Ucrânia é pela defesa da civilização. Estão bem um para o outro na falácia.
Putin acena com o futuro de um mundo multipolar. Biden antecipa um futuro de regras unipolares. Estão bem um para o outro na distopia.
Putin promete vencer a guerra. Biden promete vencer a guerra... Estão, de facto, bem um para o outro: iguais na cegueira, iguais na irresponsabilidade, iguais na arrogância, iguais na imprudência, iguais na visão assassina da geopolítica.
Bem pode Putin garantir que não usará armas nucleares a não ser que alguém as use contra a Rússia - já todos percebemos que, numa situação desesperada, isso não será verdade.
Bem pode Biden jurar que os homens da NATO nunca colocarão os pés para combater na Ucrânia diretamente contra a Rússia (o que, na realidade, já nem é rigorosamente verdade) nem que a utilização de armas nucleares nunca estará em equação - todos sabemos como é fácil aos Estados Unidos inventarem incidentes e razões "humanitárias" para justificarem fazer o que antes era diziam ser impensável.
Sim, hoje a guerra nuclear parece, apenas, ser uma questão de tempo - e os líderes dos países europeus aceitam, placidamente, ser meros veículos guiados por Washington nesta viagem para o cataclismo nos seus territórios.
Em Portugal, por exemplo, a nossa diplomacia acha que nada há melhor para fazer do que condecorar com a Ordem da Liberdade um orgulhoso e autoproclamado repressor da liberdade de expressão, da liberdade política, da liberdade religiosa e um provável encobridor de crimes de guerra chamado Vladimir Zelensky - que, apesar disto tudo, parece de ter mais decência humana dentro dele do que têm Putin e Biden.
Pedro Tadeu
Jornalista
No DN
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