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sábado, 11 de julho de 2020

"SEBASTIANAS" - CAPÍTULO II:






O PORQUÊ DE... "FESTAS DA VILA"


Em 1943, surpreendentemente, a notícia, qual estrondo sísmico, abalou o espírito dos pacatos freamundenses; a Igreja, através do novo Bispo do Porto, D. Agostinho de Jesus e Sousa, transferido da Sé de Lamego para substituir o nosso "vizinho", natural de Boim-Lousada, D. António Augusto de Castro Meireles, deu orientações ao pároco local para que o religioso se "afastasse" do profano (bandas, arraial, bazares...). As Irmandades e Confrarias dependiam totalmente do Bispo, directamente ou por intermédio do pároco. «...Sabe-se muito bem que os povos vizinhos, por vezes pessoas da mesma aldeia, esperam por estes ajuntamentos nocturnos para resolverem os seus diferendos pela violência. Quem reflectir no que expusemos deverá concordar que as festas não podem, em caso algum, merecer simpatia e a aprovação dos que têm responsabilidades na direcção das consciências e dos interesses espirituais do povo». In "Agostinho de Jesus e Sousa, Pastoral sobre Festas, Op. Cit. 1937, P. 519 - 1943, P.8".

D. Agostinho de Jesus e Sousa

Desilusão total. Para alguns não era, porém, despropositado de todo o pensamento.
A decisão foi acatada e as festividades, nesse ano, não se realizaram.
Mas as gentes de Freamunde adoravam as suas Festas, por elas sentiam orgulho, pela sua realização eram capazes dos maiores sacrifícios, da mais desinteressada entrega, e reagiram energicamente. "Hostilizaram" o poder clerical e deram a "volta" à situação. As razões invocadas não foram consideradas suficientemente fortes, convincentes, de nada serviram os "decretos", e o "arraial", no seu espaço habitual, "ressuscitou" com todo o fulgor em 1944. Só por um ano a Igreja conseguiu "dissuadir" os festeiros dos seus propósitos. Sem manifestações, sem iniciativas e participação, é certo, da Igreja, "eclipsada" que foi na sua vertente religiosa.
Nos programas das, agora, "Festas da Vila", não constava a missa solene e também a procissão. Sequer o nome do Santo Sebastião.
E assim continuaram até 1947. Debilidades financeiras, com as consequências do pós-guerra, alguma indiferença, apatia cívica, e o desencanto pela falta do "religioso", arrefeceram o ânimo dos  "entusiastas", originando um hiato de alguns anos.

(Continua)

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