Numa altura em que se discute o
presente e o futuro do jornalismo (por inerência, igualmente o seu passado), dá
vontade de ir para a janela bater em tachos de modo a aliviar a fúria quando
estamos mergulhados nisto que a “notícia” acima impõe e alimenta no espaço
público: uma campanha mediática contra um juiz – que se limita a querer cumprir
a lei com zelo pelos direitos dos arguidos e acusados – a quem foi atribuído um
processo onde os poderes fácticos (no caso, da oligarquia) pretendem usar a
Justiça para obter ganhos políticos (de ordem vária, da táctica à estratégica,
passando pela vingança). Os mesmos poderes explícitos e implícitos que ignoram,
escondem ou aplaudem os abusos do poder da Justiça desde que sejam contra
aqueles que queiram assassinar politicamente.
Por que razão não vai ser
possível encontrar um único jornalista capaz de explicar o que está
juridicamente em causa na decisão do Tribunal da Relação de Lisboa referida
acima? Por que razão não existe um único jornalista, a não ser avulsa e
vagamente em espaços de opinião, capaz de expor a estratégia de amalgamento,
confusão, do Ministério Público ao ter optado pela criação de um megaprocesso
na “Operação Marquês” com vista, precisamente, a obter as consequências
perversas que este episódio ilustra? Por que razão tem sido tão fácil fazer na
“imprensa” (incluindo a da “referência”) o culto da personalidade de Carlos
Alexandre, Rosário Teixeira e Joana Marques Vidal, e tão fácil diabolizar Ivo
Rosa de forma sistemática e desde que se conseguiu meter Sócrates numa prisão?
É que para os mandantes e para os
borregos do vale tudo não chega que Sócrates e terceiros estejam há cinco anos
numa masmorra onde foram despidos do seu prestígio, credibilidade, bom nome,
dignidade. Não chega que Sócrates tenha mais não se sabe quantos anos de
privação de plena liberdade, podendo realmente acabar por voltar a ser preso (e
por excelentes razões, se se provarem as acusações) e a ter de pagar ao Estado
somas neste momento incomensuráveis. O processo de investigação, e agora o da
instrução, é parte do linchamento maníaco onde os pulhas e os broncos vêem
qualquer apelo à razão, à Constituição, à mínima decência como expressão de
defesa do monstro que perfuram e queimam no bacanal do ódio político, o ódio
tribal mais arcano e animalesco.
Não haver jornalistas, jornais,
televisões, rádios, um órgão de comunicação com jornalistas encartados lá do cu
do mundo onde haja coragem para defender a liberdade nas muralhas da cidade,
eis a verdadeira crise que em muito ultrapassa o jornalismo.
Do blogue Aspirina B
POR VALUPI
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