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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Era um dia como outro qualquer:

Só que com o passar deste era menos um a contar no calendário da nossa vida militar na Companhia de Caçadores 3341. Nasceu como os muitos outros. Sol. Não estivéssemos no Norte de Angola, Balacende. E o mês era de Estio: Fevereiro. Chegou a tarde.

Como estávamos próximos do fim da nossa Comissão os afazeres eram de pouca monta mas de muita observância. Regra geral intitulamo-nos “velhinhos” e, com isso, um certo cuidado nos afazeres. Dizem que o “seguro” morreu de velho mas às vezes é um engano. E foi o que aconteceu.

Havia uma coluna militar da minha Companhia que se ia deslocar a Quicabo, sede do Batalhão, em serviço. Nessa coluna ia também o nosso Comandante de Companhia, Capitão, José Joaquim Loffren Rodrigues. Como a coluna estava atrasada resolveu partir à frente numa viatura Scania da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA) com o seu motorista.

Só que quando a coluna militar chegou a Quicabo não encontrou ali José Joaquim Loffren Rodrigues, nosso Capitão, nem a viatura da (JAEA).

Como era habitual o Capitão de longe a longe deslocava-se a Luanda porque ali tinha a sua companheira. Disto viemos a saber mais tarde. Sabíamos que era um solteirão.


Como não havia meio de encontrar o Capitão nem o Motorista da (JAEA) quem chefiava a coluna foi dar conhecimento ao Oficial Dia de Quicabo. Escusado será dizer que criou logo um alarme.

Foi comunicado via rádio para Balacende se o Oficial Dia estava ao corrente de alguma conveniência do Capitão: tal como a referida ida a Luanda. Nada disto se confirmou.


Foram logo dadas ordens para uma Coluna Militar partir de Balacende assim com a que estava em Quicabo vinha em sentido inverso a ver se encontrava a referida viatura e seus ocupantes num declive da estrada. Assim se fez.

A meio da viagem entre Balacende e Quicabo, zona das ex-Sete Curvas, apareceu a viatura Scania tombada no referido declive com os corpos. O do Motorista ainda se encontrava com vida ao contrário do Capitão, José Joaquim Loffren Rodrigues, que estava morto.

Escusado será dizer a onda de consternação que criou na Companhia de Caçadores 3341 e nas outras que compunham o Batalhão 3838. Sabe-se que quem comanda uma Companhia de Soldados não cai no goto de todos. Mas no da maioria sim.

E num dia como qualquer outro ocorreu uma desgraça. Era um Capitão jovem e com um futuro promissor. Era dos que primava pela ordem e disciplina. Contra tudo que fosse “bandalheira”.

Assim o dia 17 de Fevereiro de 1973 passou a ser um dia triste nas hostes dos Soldados da 3341. Faltava-nos um mês e pico para regressarmos ao convívio dos nossos familiares.

Foi pena José Joaquim Loffren Rodrigues não vir também para junto dos seus. Anos mais tarde vim a saber que era pai de um menino. De certeza que não seguiu a carreira do pai.

Todos os anos me vem à lembrança o dia 17 de Fevereiro de 1973. Já lá vão 46 anos.

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