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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Salazar – o princípio do fim do ditador (2 de agosto de 1968):

(Carlos Esperança, 02/08/2018)
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Há cinquenta anos, depois de um calista lhe ter tratado os calos, algo que ele pisou aos portugueses durante quatro décadas, o ditador caiu. Estava de férias no Forte de Santo António da Barra, em São João do Estoril, e não preso, como era justo.
O desejo do povo oprimido cumpriu-se, não pela força da justiça que merecia, mas pela força da gravidade que o projetou da cadeira, onde o caruncho laboriosamente fez o que devia, e não o suportou. Essa cadeira do nosso alívio devia estar no museu do fascismo, desconjuntada, para que pudéssemos homenageá-la e louvar-lhe a eficácia.
Dizia-se que lhe faltavam duas cadeiras, a cadeira elétrica e a cadeira na cabeça, e havia de ser a cadeira onde se sentava que libertaria o país do mais longevo ditador europeu. O caruncho terá feito, no seu persistente labor, o que os patriotas não conseguiram, mas não era o fim que merecia.
Devia ter sido confrontado com os crimes do regime, com os massacres que permitiu, a Pide que criou, o medo que infundiu, as famílias que destruiu, as prisões que abriu para adversários, a tortura a presos, meio milhão de jovens que sacrificou na guerra colonial, a censura com que amordaçou a comunicação social, os assassinatos que consentiu ou ordenou, o apoio a Franco, a entrega dos fugitivos da guerra civil espanhola, para serem fuzilados, o analfabetismo, a fome e o atraso a que condenou o país, a discriminação da mulher, que promoveu, etc., etc..
As grotescas reuniões do Conselho de Ministros no hospital da Cruz Vermelha, onde os sequazes se deslocavam, persuadiam-no de que era ainda o Presidente do Conselho.
Há cinquenta anos, a guerra continuava no Niassa e em Cabo Delgado e já estava para breve a sua extensão a Tete, mas as boas notícias demoraram a chegar a quem sabia que era injusta e inútil a guerra, além de criminosa.
Seria hipócrita não dizer que a notícia me encheu de esperança, mas a libertação do jugo da ditadura só chegaria numa manhã de Abril, vários anos e muitas mortes depois.

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