Há um par de anos, num dos debates da Universidade de Verão da Forum
Manifesto, Pedro Nuno Santos foi veemente na recusa do termo «geringonça» para
qualificar a maioria parlamentar, porque não deveriam ser os defensores da nova
solução governativa a deixarem-se contaminar pela forma depreciativa como a
eles se tinham referido Vasco Pulido Valente, e, depois, Paulo Portas.
Por concordar em absoluto com o político com quem mais me identifico no
meu Partido sempre me tenho escusado a alinhar na referida terminologia. E, por
isso mesmo, estou totalmente consonante com J.M. Nobre Correia, que veio
recordar no facebook, o que sobre o assunto escreveu no seu livro «Teoria da
Informação Jornalística» , recentemente publicado pela editora Almedina:
“[…] Assim, em Portugal, é jornalisticamente inaceitável que
jornalistas e média se refiram ao XXI Governo Constitucional, apoiado por uma
maioria parlamentar de esquerda, ou a esta maioria parlamentar, utilizando o
termo claramente depreciativo de «geringonça», termo que tem por origem um
«comentador» e um líder político pertencentes à área da direita mais
conservadora. Recordemos aqui a definição da palavra «geringonça» que nos
propõe o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado: «coisa
mal feita que se desfaz facilmente; qualquer coisa mal feita, armada no ar».
Ou, mais recente, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia
das Ciências de Lisboa: «coisa mal engendrada, tosca, mal feita e que ameaça
partir-se ou dar de si». Ou, mais recente ainda, a do Grande Dicionário da
Língua Portuguesa da Porto Editora: «coisa mal feita e que se escangalha
facilmente». Definições que põem em evidência as características negativas de
tal «coisa». Desde logo, evocar o governo ou a maioria parlamentar utilizando o
termo «geringonça» constitui, no mínimo, a prova da ignorância que reina entre
muitos profissionais do jornalismo no que diz respeito ao conhecimento da
semântica da língua portuguesa, ou é então a prova de uma vontade deliberada de
propor uma conotação negativa à experiência política iniciada em novembro de
2015 […]"
Perante tais argumentos ainda fará algum sentido que, entre os
defensores desta solução governativa, haja quem continue a citar tão
desqualificados spin doctors? É que o respeito começa por o termos por nós
mesmos e nestes mais de dois anos e meio a atual maioria parlamentar tem dado
sobejas provas de ser muito mais do que essa coisa mal feita que se escangalha
facilmente. Não só foi superiormente concebida como mostrará a sua solidez até
ao fim da legislatura.
Publicada por jorge rocha
Do blogue (Ventos Semeados)
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