1. Daqui a meia dúzia de anos, quando nas votações nacionais o PCP
conhecer resultados miseráveis, talvez João Oliveira, Paula Santos, Bruno Dias,
Rita Rato e outros dos seus atuais deputados, olhem para o passado e se
detenham neste dia 29 de maio de 2018 como tendo sido o do início do fim do seu
partido enquanto organização influente na política nacional. Talvez se
questionem o que terão perdido ao aliarem-se ao CDS para chumbarem por cinco
votos uma legislação, que tal qual a do aborto, não demoraria muito mais a ser
aprovada após uma primeira reprovação. Constatarão porventura que o seu
eleitorado de outrora não terá esquecido essa decisão absurda, provavelmente
ditada pelo único propósito de rasteirar o Bloco e o Partido Socialista,
transferindo o apoio para quem mostra não sonegar a liberdade individual em
nome de uma imposição coletiva. No fundo seguindo a lição de Saramago, que
mandava respeitar a liberdade dos outros como princípio básico de uma sociedade
mais avançada, lição nunca aprendida por quem mais deveria tê-la assimilado.
Este episódio acaba por ser apenas o mais representativo da
incapacidade do grupo parlamentar do PCP em sair da cristalizada lógica daquele
tal condutor que seguia pela autoestrada e se indignava com o facto de todos os
outros estarem em contramão, incapaz de reconhecer-se como o efetivo infrator.
Aposto que, na próxima década, aqui estaremos a dobrar finados por quem
terá esgotado as reservas de resiliência com que enfrentara os anos pós-muro de Berlim e já
nada terá a propor para quem buscará maior justiça e igualdade num mundo
globalizado, comandado pela economia digital e onde as alterações climáticas
porão na ordem do dia um novo paradigma: o do decrescimento sustentado.
2. Não sabemos se a rapariga da fotografia foi a autora do cartaz com
que se foi manifestar para a porta da Assembleia ou se alguém a incumbiu de se
prestar a tão triste figura. Mas a imagem substitui mil palavras na
demonstração da desonestidade sem escrúpulos que os opositores à lei da morte
assistida assumiram ao longo das últimas semanas.
Para quê, podemos interrogar-nos? Haverá neles a consciência de, tendo
ganho esta batalha, logo perderem a guerra final ao virar da esquina, ou seja
na próxima legislatura? É que quase por certo o Partido Socialista terá muitos
mais deputados para mudarem a relação dos pratos da balança para o sim e o
Bloco provavelmente subirá à conta dos que vinham sendo tradicionais apoiantes
do PCP e não lhe perdoarão esta inaudita colagem à direita. Não esquecendo que
o grupo parlamentar do PSD se verá entretanto
expurgado daqueles que aproveitaram esta oportunidade para uma inócua
bravata contra a vontade de Rui Rio.
3. Resta o paradoxo, que só o não é porque a coerência raramente tem
cabimento nas direitas, de estas serem contra a morte assistida depois de terem
causado centenas, senão mesmo milhares de suicídios nos quatro anos em que
desgovernaram o país e negaram qualquer esperança de futuro a tais
desesperados. Muitos deles velhinhos sobre quem a tal jovem mostrou tão
hipócrita preocupação.
Publicada por jorge rocha
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