A vida prega-nos destas partidas, passamos décadas a conviver e a
tropeçar na miséria, chegamos aos 7o anos e eis que vemos o que nunca vimos,
depois de milhares de comentários e análises, depois de quatro anos a
empobrecer ainda mais os que já eram os mais pobres, eis que surge uma luz,
certamente vinda do divino, e vimos o que nunca vimos.
Mas nunca é tarde para vermos que o mundo não é só aquele que
conhecíamos nos jantares dos banqueiros, nos almoços do Gigi, das festas da
Quinta Patino ou da Quinta da Marinha, o nosso mundo, este nosso Portugal é um
país com muita miséria, com muita gente sem recursos, com muita gente mal
remunerada. É um país onde um grande partido garantia que seria o fim do mundo
se os que ganham a miséria do ordenado mínimo recebessem mais uma dúzia de
euros.
Mas mesmo que muita gente não se tivesse sentido envergonhada no
passado e só agora tenha reparado na miséria que ainda subsiste, já muita coisa
acabou, já quase nos lembramos dos imensos bairros da lata que existiam em
Lisboa, alguns bem no centro da cidade como as barracas na zona de Chelas, uma
verdadeira cidade dentro da cidade. Felizmente há quem sinta vergonha há muitas
décadas e, sendo gente de direita ou de esquerda, sempre combateram a miséria,
recusando uma vida de futilidades palacianas.
Também é verdade que o combate à miséria deve ser penado no quadro das
políticas governamentais, é a diferença entre empregar o Catroga na EDP e
aumentar o IVA na eletricidade e nos bens básicos ou aumentar as prestações
sociais e o ordenado mínimo. É a diferebça entre defender a escola pública para
apostar na valorização profissional ou investir na privada e reduzir a pública
a albergues de crianças mais pobres.
Há quem nunca acabe de descobrir a miséria e até tenha a brilhante
ideia de exigir políticas ao governo. Até apetece perguntar a algumas pessoas
onde estiveram nos últimos setenta anos. Ainda bem que nem todos andam
distraídos e há muito que combatem a miséria, mesmo sem crise de caridade, sem
visões cristãs da sociedade e sem preocupações com agendas e ambições políticas
pessoais.
Do blogue (Jumento)
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