Sô doutor juiz, eu deitar boatos da boca pra fora?! Seja, mas tenho atenuantes. O Adérito, um primo meu que abalou para Madrid, já faz um ror de anos, é que me telefonou a perguntar que coisa foi essa de a avioneta cair no quintal. A informação, portantos, eu não a inventei. Veio-me cá ter. Também é verdade que horas antes telefonei ao Nuno - é um irmão do Adérito, que também emigrou para Espanha - e eu disse ao Nuno que foi cá um estrondo o que tinha ouvido para as bandas do quintal, até parecia um avião a explodir, daqueles com piloto inglês como havia antigamente na Grande Guerra. Confirmo mas isso com o Nuno não tem nada a ver, são conversas entre primos. Agora, quando de Espanha me telefonam a perguntar do quintal e do Canadére e do inglês e tudo, eu digo: "Olá..." O que conta é que a coisa chegava-me do estrangeiro e com aqueles pormenores todos... Desculpe, meretíssimo, diz que...? Ah isso... Sim, sim, o Adérito também é primo, aliás, eu já o dissera, mas, esse, é atilado, nada a ver com o Nuno, um estroina. É para o senhor doutor perceber a diferença: se a notícia vem do Adérito fiquei alerta. Mas não me pus logo com atoardas. Fui averiguar. Deitei-me a caminho do posto da Guarda, e perguntei ao sargento: "Que é isso do avião?" Ele olhou-me e não desmentiu - juro pela minha mãezinha, não desmentiu. Desbobinei tudo, o avião, o quintal, o estrondo, a bigodaça loura do piloto... E o comandante da Guarda, népias. Mas eu bem vi que ele chamou um guarda, que se meteu num jipe e, veja a coincidência, foi para as bandas do meu quintal. Tava confirmado. Quanto a mim, fui para a taberna. Durante hora e meia do que é que eu havia de falar? Claro... Mas está aí outro mistério! Se não tinha caído nenhum avião, porque é que me permitiram falar durante hora e meia do avião, do meu quintal e isso tudo? E depois, eu é que sou o boateiro, sô doutor juiz?!
Umas de maior importância que outras. Outrora assim acontecia. É por isso que gosto de as relatar para os mais novos saberem o que fizeram os seus antepassados. Conseguiram fazer de uma coutada, uma aldeia, depois uma vila e, hoje uma cidade, que em tempos primórdios se chamou Fredemundus. «(Frieden, Paz) (Munde, Protecção).» Mais tarde Freamunde. "Acarinhem-na. Ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens. Ela vem do tempo para vencer o Tempo."
Rádio Freamunde
https://radiofreamunde.pt/
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