Foi Hegel quem disse que a História repete-se sempre, pelo menos duas
vezes. E Karl Marx acrescentou que a primeira como tragédia e a segunda como
farsa.
Nas décadas mais recentes temos sido assombrados por essas figuras
sinistras que têm sido os filhos dos gasolineiros.
Se se dedicam ao negócio, não há nada a apontar-lhes, o problema é
quando passam a ter pretensões políticas.
Cavaco foi uma tragédia, quer como primeiro-ministro, quer como
presidente da República. Acaso tivesse cingido a ambição a tomar conta do posto
de combustível de Boliqueime assessorando o pai, não teria causado tanto dano
aos compatriotas, que vêm pagando com língua de palmo os efeitos das suas
conceções macroeconómicas e ideológicas aplicadas à governação.
Assunção Cristas deveria ater-se a este exemplo e ajudar o progenitor a
melhor gerir o negócio da família. Mas também ela foi tomada pelo fascínio do
poder. Os acontecimentos vão ditando o cumprimento daquela ilação empírica de
Karl Marx a propósito da evolução da História. Não lhe assiste o mínimo sentido
do ridículo, quando enche o peito de ar e propõe vinte novas estações de
metropolitano para a cidade de Lisboa.
Alguém a terá levado a sério? A reação imediata não terá sido a de ver
em tal bravata o exemplo descarado da politiquice mais destemperada apenas
tendo por estímulo a conquista de alguns votos na pugna eleitoral que se
aproxima?
Se algum gasolineiro me estiver a ler dou-lhe sincero conselho: nunca
estimule os seus filhos a dedicarem-se à política. É que, se não der desastre,
resulta por certo em disparate…
A frase hegeliana-marxista também se anda a aplicar à política
norte-americana: se não fossem os ignorantes, que já demonstraram ser, ps
conselheiros de Trump teriam aprendido como o início do fim do consulado de
Nixon na Casa Branca aconteceu quando a então Administração decidiu afastar os
que estavam a investigar o assalto ao edifício Watergate.
De nada valeu a Nixon ter tirado fotografias com Mao Zedong na Muralha
da China, nem a perspicácia assustadora de Kissinger para evitar a derrocada.
Os conselheiros de Trump poderiam, por isso mesmo, evitado que ele afastasse o
diretor do FBI, a quem aliás deviam o favor de, em plena campanha presidencial,
ter colaborado ativamente na destruição da imagem pública de Hillary Clinton.
Uma vez mais a História repete-se. Nixon pode ser recordado como tendo
liderado uma Administração, que se atolou tragicamente no Vietname, à conta de muito
napalm e de bombardeamentos incessantes, causando milhares de vítimas nas
populações de três países da Indochina e na juventude norte-americana de então.
Na sua manifesta estupidez e arrogância, Trump arrisca-se a sair de
cena como farsante, que terá julgado possível traduzir na política, o seu mau
carácter nos negócios. Trapaceiro e prepotente, dará porventura origem a novos
vocábulos para melhor definir o que de pior pode haver no exercício do poder.
Quinta-feira, 11 de Maio de 2017
No blogue (Ventos Semeados)
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