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sábado, 18 de março de 2017

Sócrates era, afinal, o dono disto tudo:

O prolongamento do inquérito da Operação Marquês  provocou, como era de esperar, uma enorme discussão nos meios de comunicação social e nas redes sociais. Uma das mais interessantes ocorreu na SIC-Notícias, sexta-feira à noite, no programa Expresso da Meia Noite. Digo interessante porque um dos participantes, o advogado João Nabais, criticou as  revelações da jornalista da SIC, Sara Antunes de Oliveira, que também participava no debate, por conhecer o interrogatório do arguido Helder Bataglia, que segundo a jornalista justifica as últimas diligências do Ministério Público e as novas acusações a Sócrates. Sara mostrou-se bem informada sobre o processo, a ponto de explicar que no caso da OPA da Sonae à PT o importante são “os bastidores das decisões” (que pelos vistos ela conhece) e não a “aritmética das votações na assembleia geral da PT”.
Outro dos participantes no debate, Micael Pereira, jornalista do Expresso, mostrou-se mais discreto na exibição dos seus conhecimentos sobre o processo, mas, ainda assim, não escondeu que conhece bem a estratégia e os pontos de vista do Ministério Público.
João Nabais bem se esforçou na defesa do que ele chamou princípios de um Estado de direito, respeito pelos prazos do inquérito e direitos dos arguidos e na crítica à condução do processo pelo Ministério Público.  Mas o seu papel era difícil porque os seus interlocutores, incluindo a ex-jornalista, agora advogada, Inês Serra Lopes, dispõem de informação privilegiada e mostraram-se seguros e convictos das razões do Ministério Público, cujos pontos de vista adoptaram. Sócrates e os seus advogados bem podem clamar pelos seus direitos que essa é matéria que só interessa aos líricos ou aos “socráticos”.
Perante as certezas sobre a culpabilidade de Sócrates e a imensidão de crimes de que é já praticamente acusado, admira que não estejam já a ser investigados todos os membros dos seus dois governos, bem como os seus amigos e todos aqueles que alguma vez foram apanhados a falar com ele, pessoalmente e ao telefone. É que é impossível que sejam só  pouco mais de vinte as pessoas, algumas das quais completamente desconhecidas e fora das esferas do poder, que ajudaram Sócrates a obter os milhões que o Ministério Público contabilizou como sendo dele.
Como é que um primeiro-minstro conseguiu fazer tantas falcatruas sem que ninguém no governo desse por isso? Se até o Presidente Cavaco vem dizer que “nunca detectou nenhum comportamento de Sócrates que violasse as normas”… Andavam todos a dormir ou foram todos coniventes?
Há nisto tudo alguma coisa que não bate certo. Sócrates, sozinho, a manobrar  no governo para beneficiar o Salgado e o BES , o Zeinal e o Granadeiro, e a receber dinheiro de todos os lados? E não há um recibo, um papelinho, uma caderneta, um despacho, qualquer coisa que o faça calar  a dizer que não há provas? E se há porque é que ainda não saíu ao menos uma  nos jornais amigos dos procuradores?
Uma coisa parece certa: pelo que vamos lendo e ouvindo, Sócrates era afinal o dono disto tudo. Não Ricardo Salgado, como tem sido dito. O Ministério Público tem razão, a procissão ainda vai no adro e o processo ainda agora começou. Há, pois, que continuar as  buscas porque as provas hão-de aparecer!

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