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quinta-feira, 23 de março de 2017

Pacheco Pereira a caminho de Damasco:

Paulo Pedroso elogiou o Pacheco por causa do texto Impedir abusos, defender direitos, liberdades e garantias é connosco e não com Sócrates, onde, para além da referência ao processo Casa Pia, encontrou uma denúncia dos abusos do Ministério Público sobre Sócrates e demais arguidos na “Operação Marquês”. Abusos que está em condições de compreender por experiência própria. Pedroso viu a sua carreira política, altamente promissora, ficar destruída precisamente por ter sido vítima de uma Justiça onde se praticam recorrentes, sistemáticas e capitosas injustiças.
Ora, o texto do Pacheco nasceu da intervenção do Nuno Nabais no Expresso da Meia Noite no passado dia 17. Esse episódio de indignação foi uma pedrada no charco no marasmo e atrofio cívico dos espectadores que ainda não perderam o respeito por si próprios. Porque Nabais estava rodeado de 5 jornalistas, uma delas armada em advogada para o deboche ser maior, que, por actos e omissões (sim, Nicolau, esta é para ti apesar do tudo que não és), estavam a validar o comportamento criminoso do Ministério Público nas investigações acerca da suspeitada corrupção de Sócrates. E Nabais disse-lhes na cara que a sua cumplicidade com o escândalo em que o processo se transformou desde o seu primeiro momento público (e poderíamos inclusive situar o escândalo muito antes) só se explicava pela obsessão com Sócrates. Uma desvairada obsessão que permite a jornalistas da suposta “imprensa de referência” usarem a sua carteira profissional para mostrarem que sabem mais sobre um dado processo judicial do que os próprios arguidos e sua defesa. Uma obsessão feita de ódio, mas também de sectarismo e dependências várias a vários poderes fácticos, que se celebra a si própria num frenesim de ilegalidades inerentes a um linchamento em curso. Este diálogo, ao minuto 33, sintetiza a “operação Sócrates” que parte da “imprensa” está a fazer:
Inês Serra Lopes - O importante é que exista uma acusação!
Nuno Nabais - Mas porque é que tem que haver uma acusação?... Pode haver um despacho de arquivamento.
A promiscuidade criminosa do Ministério Público com os órgãos de comunicação social que exploram uma efectiva suspensão do Estado de direito para concretizarem agendas políticas e/ou comerciais tem esta superior finalidade estratégica: levar à aceitação social de uma eventual acusação insuficiente em matéria probatória e, acto contínuo, levar a uma eventual condenação por provas indirectas e clamor público. Perante a evidência, poder político, instituições públicas e sociedade civil têm apoiado com passividades e silêncios cumulativos o auto-de-fé. Porquê? Porque, e por razões fáceis de encontrar, até o PS obtém benefícios neste julgamento e tortura na praça pública que se faz a Sócrates por um colectivo cobarde. Estamos a viver uma inaudita experiência catártica onde os reais ou imaginados crimes de Sócrates deixam de requerer provas porque estão a ser cinzelados como mitos fundadores da nova História. Ele tem de ser sacrificado no altar da nossa submissão aos poderes que não controlamos, sequer sabemos onde habitam, mas que nos entram em casa e na mirrada defesa da liberdade. Reina a anomia na Grei por causa da paixão política por um homem.
O texto do Pacheco é ridículo, patético e mentiroso. Mais um assim, o enésimo, que vende por bom dinheiro. 90% do que escreve não passa da cassete “ele é culpado dos piores crimes, como eu sempre disse”, fazendo coro com os esgotos a céu aberto que fedem na cidade. Pacheco é um fulano que está na política há 40 ou 50 anos, que foi parte integrante e activa do cavaquismo nos seus vários ciclos, e que nunca encontrou mentiras e anomalias suspeitas no pessoal a quem se abraçou e com quem se cruzou. Foi preciso aparecer Sócrates para finalmente se confrontar com a corrupção e males congéneres. O Pacheco, portanto, é um palhaço que ganha a vida no circo que é a indústria da calúnia. Todavia, até este palhaço, mesmo que irónica e involuntariamente, consegue contribuir para a iluminação do que está em causa:
Sócrates hoje está sozinho no seu labirinto. A direita que o louvou como o “social-democrata” do PS, como aquele que tinha “roubado” o programa ao PSD, que andou ali a fazer-lhe a corte nos interesses e na política, agora, certamente por complexo de culpa, vai lá apedrejá-lo como se nada tivesse que ver com o homem. Mais, em vários momentos cruciais, protegeu-o de acusações muito semelhantes àquelas de que hoje lhe faz o Ministério Público.
A tese é a de que Passos e Relvas foram cúmplices de Sócrates quando o sabiam culpado de ilegalidades. Uma tese literalmente maravilhosa, que se explicita a si própria quanto à sua origem mental sem carência de mais palavras. O que realmente importa na citação está nesta oração: “protegeu-o de acusações muito semelhantes àquelas de que hoje lhe faz o Ministério Público.“. Do que fala é do “Face Oculta” e da operação que levou a que se espiasse ilegalmente um primeiro-ministro com vista a abrir um processo judicial contra ele em cima das eleições de 2009. Ora, quando o Pacheco repete estas bojardas a troco de dinheiro, e como estrela da política-espectáculo no suposto “jornalismo de referência”, a sua mensagem consiste efectivamente nos seguintes elementos:
– Que Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento são ainda mais culpados do que Passos e Relvas, pois sabiam tanto ou mais do que eles e tinham a acrescida responsabilidade de terem agido no cumprimento do seu dever. Com isto, o Pacheco contribui intencionalmente para espalhar no espaço público um suspeita conspiracionista cuja lógica é a de levar ao sentimento de que as instituições da República e o Estado de direito ruíram pelo poder diabólico – portanto, inexplicável e indomável – de uma coligação de agentes, uns nomeados e outros apenas subentendidos.
– Que nada se tem de concretizar para atacar Sócrates e terceiros com quem se imaginem ligações de parceria, basta apenas lançar suspeições sem fundamento. O Pacheco repete que escutou os registos da espionagem feita a Sócrates, que eles são “terríveis” e que há muita gente a mentir, mas nunca se foi oferecer ao Ministério Público para os ajudar a apanhar essa malandragem nem sequer permite que se saiba do que está a falar. É pura canalhice.
– Que o “Face Oculta” não tinha matéria que legitimasse a intervenção da Justiça mas chegava para judicializar a política na forma de mais comissões de inquérito e, com sorte, levando a que o Ministério Público abrisse uma investigação, levando a que então se fizesse a exploração político-mediática e devassa da privacidade que tem sido feita na “Operação Marquês”. O Pacheco parece não ter qualquer consciência de que o combate político a Sócrates pela direita não foi feito no páreo de modelos de sociedade e desenvolvimento económico mas, logo desde 2004 com o Freeport e as suspeitas de ser homossexual, exclusivamente recorrendo a assassinatos de carácter – os quais tiveram sempre a participação de agentes da Justiça.

Aparentemente, em Março de 2017, 8 anos depois do que andou a fazer e com quem o andou a fazer, o Pacheco começa a dar-se conta de que, talvez, quer-se dizer, vai na volta, isto que se passa com Sócrates no tandem Justiça-indústria da calúnia é capaz, se calhar, talvez, vai na volta, de ser mesmo, ai jasus, uma perseguição política. Já que é notório o teu desequilíbrio em cima do cavalo, Pacheco, só posso desejar que te aleijes na queda.
Do blogue (Aspirina B)

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