O fim do túnel da troika já se vê e o que se vê não é luz que encante.
Mais um aviso: o de Cavaco Silva. No Expresso, o Presidente publicou o prefácio
do último Roteiros, balanço e perspetivas anuais do seu mandato. Resumo: o
começo do fim vai durar muito e vai acabar mal. Sobre durar muito, ele é
taxativo: só nos livramos desta canga lá para 2035. Sobre acabar mal, ele não o
diz assim (um Presidente não pode ser tão profeta da desgraça), mas aponta
solução agora irrealista: só um consenso de PSD, PS e CDS levantar-nos-ia. Eu
estou de acordo com a mezinha (necessária, embora não suficiente), mas duvido
da eficácia por causa da... ordem das páginas. A solução é-nos apresentada num
prefácio, não é? Pois, não é um prefácio, é um posfácio - e essa é uma das
causas da nossa desgraça. Um prefácio escreve-se em páginas antes do assunto do
livro, para o iluminar. O livro da nossa desgraça - a nossa crise - deveria ter
tido, sim, um prefácio sensato. Dizendo, em 2009, 2010 e 2011, isto: A) esta é
uma crise global; e: B) e é também uma crise especificamente portuguesa, com
erros e vícios que sucessivos governos portugueses aprofundaram; e: C) a situação
é grave e aqueles que a causaram têm o dever nacional de se juntar para nos
tirarem dela... Infelizmente, ninguém importante disse, então, esse prefácio.
Ouviu-se, isso sim, demasiado, a negação de A). E, em vez de B), a demonização
de um só governo. Isto é, impediu-se C).
FERREIRA FERNANDES
Hoje no DN
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