Cada professor, sem vínculo à função pública, que quiser candidatar-se
à colocação numa escola no próximo ano letivo terá de pagar, no mínimo, 20
euros ao Estado. O que dizer desta enormidade, mais uma, com a assinatura do
ministro Crato? Talvez colocá-la em corpo 16, talvez lembrar todas as outras
ideias bestiais do mesmo autor. Por exemplo, o ensino dual, que podia ser uma
boa solução pedagógica e económica, uma resposta às necessidades concretas do
mercado de trabalho, mas que com o dedo rancoroso de Crato se transforma em
arma de destruição da mobilidade social, castigo para alunos e famílias. Ou
então recordar o corte profundo no orçamento do ensino público em 2013-2014,
enquanto se aumenta o financiamento das escolas privadas e associativas. Ou,
porque não, o fim da obrigatoriedade do Inglês no ensino básico, que acabou, em
boa hora, por morrer no tinteiro ministerial.
Nuno Crato vai chamar o quê a esta coisa inacreditável? Taxa
moderadora, para intimidar as candidaturas de milhares de professores desesperados
e sem alternativa senão pagar os 20 euricos? Taxa de luxo, porque realmente é
um privilégio ter trabalho - digo: candidatar-se a um emprego - num país com um
milhão de desempregados e que assim ficará nos próximos anos? Ou talvez queira
chamar-lhe simplesmente multa porque, para ele, quem hoje ainda insiste em ser
professor não percebe, não entende que circula em contramão.
Permito-me, então, sugerir um imposto de selo, mas às ideias
analfabetas do ministro que ambiciona ser fonte de receitas, não de
conhecimento. Crato não quer ser despesa, é essa a sua pulsão dominante. Ele
nem imagina o muito que está a custar ao país. Não são apenas as ideias
incapazes e os métodos de guerrilha pessoal, são os muros que ele levanta a
cada passo e que bloqueiam tudo à sua volta, em todas as áreas da governação,
não apenas na dele.
O Ministério da Educação e os sindicatos de professores vivem hoje
entrincheirados numa guerra suja. Talvez seja aqui, mais do que em qualquer
outro ministério, que se torna mais chocante o grau de impreparação. As
dificuldades financeiras tornam inevitáveis os sacrifícios, a poupança, a
redução de professores. É verdade, não há dinheiro. Mas na educação exige-se
mais, porque não se joga apenas o presente (isto é tão simples que até custa escrever...),
determina-se o futuro próximo.
Crato não olha para a frente, olha para o chão, espezinha, suprime,
humilha; e assim torna um pouco mais respeitáveis alguns dos sindicatos mais
imobilistas que há em Portugal. Não tenho dúvida alguma: são restos do mesmo
caldo, embora hoje o ministro se inspire no ar do tempo e no que ele julga
serem as boas práticas do sector privado, o procurement, blá-blá-blá. O
funcionário Crato não pensa, martela banalidades. O que sobra é isto: o ensino
público transformado num vazadouro de lugares-comuns.
ANDRÉ MACEDO
Hoje no DN

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