Gaspar fazia reuniões em off com jornalistas para dizerem em conjunto
mal do Executivo anterior e cantarem loas à austeridade. Passos foi eleito na
campanha interna do partido graças a um punhado de bloggers
"especializados em desinformação" coordenados por Relvas, que também
orquestrou a das legislativas; não teve estado de graça porque mal ganhou
compensou todos (menos um?) com sinecuras, destruindo "a rede".
A primeira revelação é de André Macedo na sua coluna de ontem no DN,
close-up de um ministro pintado pelos media como "um técnico puro"
que afinal se desvendava em 2011, mal pegou ao serviço, como propagandista
politiqueiro. A segunda efabulação é de um consultor de comunicação
entrevistado pela Visão a propósito de uma alegada tese sobre "a importância
da comunicação política digital na ascensão de Passos" e que assume a
existência de campanhas negras contra o Governo Sócrates, com criação de
"perfis falsos" no Facebook e no Twitter: "Se deixarmos uma
informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado,
daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro
mundo."
Estes dois vislumbres sobre a génese e a natureza do Governo Passos
têm, até pela credibilidade muito distinta dos emissores, valores diferentes.
Do que o André conta anota--se não que um político quis trazer a si os media -
qual o espanto? -, mas que os jornalistas lhe saltaram para o colo,
entusiasmadíssimos com as "ideias" da troika/Gaspar. Daquilo que o
consultor de comunicação diz, entre infrene autopromoção, falsidades e absurdos
(como garantir que em 2009 os blogues políticos tinham 30 mil visitas/dia e que
a net foi fundamental para as vitórias), ressalta a ironia de certificar que os
apoiantes do atual PM, incluindo "jornalistas no ativo" que, aliás,
nomeia, fizeram tudo aquilo que imputavam furiosamente aos do Governo PS. Vai
ao ponto de asseverar que a sua "equipa de voluntários" tomou como
modelo de atuação o blogue Câmara Corporativa, que acusavam (emulando Pacheco
Pereira, autor da teoria) de ser feito e pago a partir do gabinete de Sócrates,
"usando informação privilegiada sobre pessoas": "Não éramos
anjinhos, sabíamos bem ao que íamos", diz, gabando-se de que o seu
"grupo" recebia "filet mignon informativo" do PSD de Passos
através de "um mail fechado".
Mas a ironia não fica por aqui. Ao mesmo tempo que clama ter
participado em campanhas ínvias e negras para manipular os media e a opinião
pública, o entrevistado da Visão repete a acusação de que o gabinete do
anterior PM fornecia "informação privilegiada sobre pessoas" ao tal
blogue, sem que a revista exija dessa gravíssima alegação qualquer prova ou
sequer exemplo. Às tantas, o tipo é mesmo, como pretende convencer (ou
recordar?), muito bom no que faz. Ou temos de concluir que, como afiança,
vivemos num "caldinho jeitoso para isto."
FERNANDA CÂNCIO
Hoje no DN
Hoje no DN

Sem comentários:
Enviar um comentário