Paulo Portas quer ser o Giorgio Armani da reforma do Estado. Todos os
anos o estilista apresenta os novos modelos e acaba com uma frase cintilante,
um laço que embrulha o conjuntinho: "Proponho para esta estação una donna
moderna però rinovata." Portas também deseja um Estado moderno (alguém
deseja um Estado antigo?!) e renovado (alguém quer um Estado parado?!), mas não
vai além disso. Não vai, aliás, a lado algum.
As "110 páginas úteis" do guião, como lhe chamou ontem, são
de uma pobreza inacreditável. Não é sequer um catálogo de pronto-a-vestir
político. É uma loja dos 300 onde, no meio de ideias copiadas, avulsas e
superficiais, encontramos um ou outro ponto que é possível debater, mas apenas
por causa do nosso desespero coletivo. O que resulta dali é tão-só uma
salganhada ignorante, uma coleção de chavões e banalidades que não são mais do
que a redação pueril de um candidato a uma juventude partidária que passou os
olhos na biografia de Hayek , a da Wikipédia.
O célebre guião, este guião, esta coisita, não é um ponto de partida. A
ser qualquer coisa é um ponto de chegada. É o fim da linha. É o epílogo que
arrasa as últimas aparências que ainda restavam sobre este grupo de estagiários
que o País tragicamente elegeu. É a prova documental de que o Governo não sabe
o que está fazer - cumpre metas impostas externamente - e nem imagina para onde
irá a partir daqui.
O texto que demorou dois anos a produzir é tão rudimentar que na
verdade é apenas embaraçoso. Ontem senti vergonha alheia por Paulo Portas - o
presidente do CDS acabou. Não compreendo, a não ser por vingança, raiva e
desprezo profundos, como Passos Coelho foi capaz de o autorizar a apresentar
esta manta de retalhos, este patchwork - Portas deve apreciar a palavra - que
era suposto criar as bases para a mudança que o País terá um dia de enfrentar.
Não há quadros comparativos, não há estatísticas que permitam ver de
onde viemos e para onde podemos ir, não há pensamento algum, referência alguma,
não há estudo, não há trabalho. Nada. Ao pé disto o trabalho do FMI, o de
janeiro, é um luxo científico. Talvez por isso, talvez porque aqui cabe mesmo
tudo, Portas tenha conseguido enfiar esta frase grotesca: "(...) esta
maioria tem uma matriz identificada com o chamado modelo social europeu."
Tem, tem; e Portugal vai crescer 0,8% em 2014 e muito, muito mais em 2015...
ANDRÉ MACEDO
Hoje no DN
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