‘Espero bem que o país não se
esqueça de ajustar contas com essa gente um dia. Esses economistas, esses
catedráticos da mentira e da manipulação, servindo muitas vezes interesses que
estão para lá de nós, continuam por aí, a vomitar asneiras e a propor crimes,
como se a impunidade fizesse parte do estatuto académico que exibem como manto
de sabedoria.
Essa gente, e a banca, foram os que convenceram Passos Coelho a recusar
o PEC 4 e a abrir caminho ao resgate, propondo-lhe que apresentasse como seu
programa nada mais do que o programa da troika - o que ele fez, aliviado por
não ter de pensar mais no assunto. Vale a pena, aliás, lembrar, que o
amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e
repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço
incomportável a pagar. Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior
ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos
estava a acontecer foi Sócrates - o culpado de vinte anos sucessivos de défice
das contas públicas, o culpado da ordem vinda de Bruxelas em 2009 para gastar e
gastar contra a recessão (que, curiosamente, só não foi cumprida pela Alemanha,
que era quem dava a ordem), e também o culpado pela vinda da troika. Mas, tanto
o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC 4, o país ficava sem
tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate. Sabiam-no,
mas o apelo do poder foi mais forte do que tudo, mesmo que, benevolamente,
queiramos acreditar que não mediram as consequências.
E também o sabia o PCP e a CGTP, que, como manda a história, não
resistiram à tentação do quanto pior, melhor. E sabiam- -no Francisco Louçã e o
Bloco de Esquerda, que, por razões que um psicanalista talvez explique melhor
do que eu, se juntaram também à mais amoral das coligações
direita/extrema-esquerda, com o fim imediato e mais do que previsível de
obrigar o país ao resgate e colocar a direita e os liberais de aviário no
poder, para fazer de nós o terreno de experimentação económica e desforra
social a que temos assistido.’
Miguel Sousa Tavares [no Expresso]:
Miguel Sousa Tavares [no Expresso]:

Sem comentários:
Enviar um comentário